São Paulo, sábado, 18 de janeiro de 1997
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Brasileiro realiza mostra para Cardin

BETINA BERNARDES
DE PARIS

O designer brasileiro Ricardo Nauenberg foi o escolhido para criar e realizar a exposição em Paris em comemoração aos 45 anos de carreira do costureiro e empresário Pierre Cardin.
Uma história que começou cerca de dois anos atrás, durante uma mostra dos trabalhos de Cardin montada em São Paulo.
Nauenberg, que se notabilizou como diretor de ficção, foi sondado na época para montar o evento.
Até então, sua única experiência na área havia sido uma exposição sobre Debret realizada na Chácara do Céu, no Rio de Janeiro. O sucesso do trabalho levou à sua indicação para os responsáveis pela vinda de Cardin ao Brasil na época.
O diretor concebeu então o evento como um grande roteiro de cinema (leia texto ao lado). Escolheu o papel como elemento básico. "Papel está muito associado à moda. Do desenho do modelo ao corte dos moldes, tudo é papel. Quando não se gosta do desenhado, o papel é amassado", diz.
Ele construiu paredes e colunas de papel. A exposição ficava escondida atrás das paredes, pintadas com milhares de silhuetas.
Sensação
"A idéia era provocar nas pessoas a sensação que Cardin tinha ao sentar para criar um modelo, o começo do espírito da criação. Um espaço completamente branco e um caminho com milhares de bolinhas de papel amassado."
Atrás das paredes, vinha a explosão de cores dos modelos do costureiro.
Em Paris, o princípio da exposição montada no Espace Cardin é o mesmo, mas agora há ênfase na ligação entre moda, comportamento, cultura e política.
"Estamos lidando com uma pessoa que atravessou quase 50 anos de moda. Se tentarmos traçar um paralelo das coisas que ele criou com os momentos da história política, econômica, da arquitetura, das artes plásticas, vemos que é tudo um balaio só", diz Nauenberg.
Assim, nasceu a exposição com cem peças do costureiro, se referindo a vários períodos da história.
A mostra começa com um ponto de vista parecido com a feita em São Paulo. Ao entrar, a pessoa não vê diretamente as obras.
Passando para um segundo ambiente, o visitante lê textos sobre moda, história e comportamento.
Décadas
A exposição é dividida em décadas. Os anos 50 foram batizados de "Le Réveil" (O Despertar). "Foi o tempo da reconstrução, no pós-guerra, e há uma opção muito clara tanto nas artes plásticas quanto na arquitetura, que é por uma linguagem muito mais minimalista", diz Nauenberg.
A obra de Cardin nessa época é como uma arquitetura movimentada.
A sala tem uma série de colunas com espelhos para multiplicar as imagens dos manequins dispostos ao longo dessas colunas.
Os anos 60 são o "Do It!" ("Faça Isso"). O período da contestação vem em uma enorme estrutura que brinca com silhuetas, lembrando sombras chinesas e se assemelhando a uma manifestação estudantil. "Cardin, no seu métier, também fez uma revolução nesses anos", explica o diretor.
O costureiro cria o prêt-à-porter, democratizando a moda e colocando modelos à venda em grandes magazines, baixando preços.
É também o momento em que Cardin passa a usar estudantes universitários em seus desfiles.
Nos anos 70, "The Dream is Over" ("O Sonho Acabou"). Os manequins olham em outra direção, procurando luz. Enquanto as pessoas se voltam ao Oriente, Cardin vai à China, de onde traz novas linhas para suas roupas.
Na sala dos anos 80 e 90, "Back to the Future" ("De Volta para o Futuro"). Período em que os modelos antigos são revisitados sob um novo olhar e Cardin retoma formas dos anos 50.
A década de 90, da informatização e comunicação, vem em uma sala com colunas de papel que lembram tele-transportadores.

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