São Paulo, sábado, 18 de janeiro de 1997
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Nobel foi alvo de atentado, diz bispo

RUI NOGUEIRA
EM SÃO PAULO

O bispo de Dili (Timor-Leste), d. Carlos Felipe Ximenes Belo, 48, Prêmio Nobel da Paz de 1996, foi alvo de uma tentativa de assassinato na véspera do Natal passado, segundo um bispo australiano.
Ximenes Belo dividiu o Nobel com o diplomata timorense José Ramos-Horta e ambos receberam o prêmio no último dia 10 de dezembro, em Oslo (Noruega).
O homem suspeito de ser o principal envolvido no atentado foi morto a socos e pontapés pelos manifestantes que receberam o bispo no dia 24 de dezembro, de volta da viagem à Europa. Foi identificado como Alfredo dos Santos, soldado timorense integrado ao Exército indonésio.
Por telefone, o próprio bispo e um padre da diocese de Dili, capital de Timor Leste, que pediu para não ser identificado, confirmaram ontem à Folha o atentado, a identidade e a morte do suspeito.
O atentado só foi revelado ontem pelo bispo católico de Melbourne (Austrália), Hilton Deakin, durante entrevista à rádio Australian Broadcasting Corporation.
Aparentando irritação durante entrevista, o bispo Ximenes Belo disse que "o incidente foi nas imediações da catedral de Dili" e que não queria falar sobre o assunto. "Agora, o bispo de Melbourne que conte o resto", acrescentou, desligando em seguida o telefone.
O bispo evita dar entrevistas e comentar fatos ligados à sua administração por temer uma ordem de remoção do Vaticano a pedido do governo da Indonésia.
O padre que trabalha na diocese disse que d. Ximenes Belo foi recebido em Dili por aproximadamente 50 mil manifestantes e que o primeiro incidente ocorreu ainda no aeroporto.
Segundo ele, foi um "tumulto passageiro e estranho" provocado por alguém que tentou se aproximar do Prêmio Nobel. "Mas não foi possível localizar a pessoa nesse primeiro caso", disse o padre.
No segundo incidente, perto da catedral para onde se dirigiram o bispo e os manifestantes, o suspeito foi preso pela segurança de d. Ximenes Belo.
O bispo Deakin afirmou em entrevista à rádio que o soldado estava à paisana e que levava "uma importante soma em dinheiro".
Roque Rodrigues, chefe da representação timorense em Lisboa (Portugal), disse à Folha que o soldado timorense "estava armado com uma pistola e tinha um telefone celular programado para falar com o comando militar da Indonésia na região".
Segundo a agência de notícias "Efe", em Sydney (Austrália), a polícia indonésia deteve 15 pessoas suspeitas de envolvimento na morte do soldado.
A diocese de Dili suspeita que o linchamento do soldado Alfredo dos Santos tenha sido promovido pelo próprio Exército indonésio.
"Se ele fosse preso poderíamos interrogá-lo e saber quem está por trás do atentado. Temos medo que gente da própria segurança de d. Ximenes esteja envolvida", disse o padre.
Timor Leste foi colônia portuguesa até 74. Depois da descolonização, os timorenses enfrentaram três semanas de guerra civil. Em dezembro de 75 a ilha foi invadida pelo Exército indonésio e transformada na sua 27ª província.
As entidades de defesa dos direitos humanos calculam em cerca de 100 mil o número de mortes provocadas pela invasão.

com agências internacionais

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