São Paulo, sábado, 18 de janeiro de 1997 |
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Nobel foi alvo de atentado, diz bispo
RUI NOGUEIRA
Ximenes Belo dividiu o Nobel com o diplomata timorense José Ramos-Horta e ambos receberam o prêmio no último dia 10 de dezembro, em Oslo (Noruega). O homem suspeito de ser o principal envolvido no atentado foi morto a socos e pontapés pelos manifestantes que receberam o bispo no dia 24 de dezembro, de volta da viagem à Europa. Foi identificado como Alfredo dos Santos, soldado timorense integrado ao Exército indonésio. Por telefone, o próprio bispo e um padre da diocese de Dili, capital de Timor Leste, que pediu para não ser identificado, confirmaram ontem à Folha o atentado, a identidade e a morte do suspeito. O atentado só foi revelado ontem pelo bispo católico de Melbourne (Austrália), Hilton Deakin, durante entrevista à rádio Australian Broadcasting Corporation. Aparentando irritação durante entrevista, o bispo Ximenes Belo disse que "o incidente foi nas imediações da catedral de Dili" e que não queria falar sobre o assunto. "Agora, o bispo de Melbourne que conte o resto", acrescentou, desligando em seguida o telefone. O bispo evita dar entrevistas e comentar fatos ligados à sua administração por temer uma ordem de remoção do Vaticano a pedido do governo da Indonésia. O padre que trabalha na diocese disse que d. Ximenes Belo foi recebido em Dili por aproximadamente 50 mil manifestantes e que o primeiro incidente ocorreu ainda no aeroporto. Segundo ele, foi um "tumulto passageiro e estranho" provocado por alguém que tentou se aproximar do Prêmio Nobel. "Mas não foi possível localizar a pessoa nesse primeiro caso", disse o padre. No segundo incidente, perto da catedral para onde se dirigiram o bispo e os manifestantes, o suspeito foi preso pela segurança de d. Ximenes Belo. O bispo Deakin afirmou em entrevista à rádio que o soldado estava à paisana e que levava "uma importante soma em dinheiro". Roque Rodrigues, chefe da representação timorense em Lisboa (Portugal), disse à Folha que o soldado timorense "estava armado com uma pistola e tinha um telefone celular programado para falar com o comando militar da Indonésia na região". Segundo a agência de notícias "Efe", em Sydney (Austrália), a polícia indonésia deteve 15 pessoas suspeitas de envolvimento na morte do soldado. A diocese de Dili suspeita que o linchamento do soldado Alfredo dos Santos tenha sido promovido pelo próprio Exército indonésio, para evitar que ele confessasse a participação do governo no ato. Timor Leste foi colônia portuguesa até 74. Depois da descolonização, os timorenses enfrentaram três semanas de guerra civil. Em dezembro de 75 a ilha foi invadida pelo Exército indonésio. Ramos-Horta anunciou ontem que os independentistas da região vão formar um governo paralelo ao de Jacarta, a capital da Indonésia. Segundo ele, essa organização trabalhará por uma "anistia e reconciliação". Dois terços do grupo será composto, segundo ele, por timorenses que vivem em seu país, em detrimento dos exilados. com agências internacionais Texto Anterior: Revista cria o 'jogo da eleição' Próximo Texto: Sonda sugere vida em lua de Júpiter Índice |
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