São Paulo, sábado, 18 de janeiro de 1997
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UMA VOZ RARA

A equipe econômica tem dedicado esforços praticamente constantes para rebater as críticas mais fundamentais ao plano de estabilização, sobretudo as que se referem aos riscos de uma valorização cambial excessiva. Em alguns momentos, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, chegou mesmo a fazer uma diferenciação entre as críticas responsáveis e os ataques dos ressentidos. Mas agora ouve-se a voz do mestre.
Edmar Bacha é, entre os economistas brasileiros, um decano cuja independência e seriedade são reconhecidas por todos. Embora não integre mais a equipe econômica, Bacha é um dos pais do Real.
Pois é o próprio Bacha quem alerta, em entrevista publicada na Folha, para os riscos da estabilização num ambiente de ajuste fiscal insuficiente. Para o economista, quanto mais demorado o ajuste fiscal, menor a confiança no futuro da estabilização, por mais que no curto prazo sejam promovidas privatizações ou venham investimentos estrangeiros para financiar os déficits brasileiros.
Bacha portanto vislumbra um cenário de vulnerabilidade que, entre os economistas do governo, nunca foi assumido com tanta clareza.
A hipótese de mudanças imediatas na política cambial é claramente descartada na análise do pai do Real. Mas Bacha não está entre os economistas que simplesmente se recusam a ao menos examinar a questão.
As preocupações de Bacha não são originais. Mas, vindas de um dos principais responsáveis pela estabilização brasileira, a simples aceitação de que se trata de um problema sério, que se torna ainda mais sério na ausência de ajuste fiscal, é importante.
Num momento em que as atenções da sociedade estão concentradas no tema da reeleição presidencial, Bacha vê sentido num novo mandato para o presidente FHC como forma de atacar definitivamente os desequilíbrios do setor público.
É, hoje, uma voz rara, que busca sentido num projeto cujas bandeiras têm sido apagadas ao longo do tempo. Resta esperar que a voz do mestre não fique, também, rouca.

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