São Paulo, sábado, 18 de janeiro de 1997
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SEM ALTERNATIVA

Ao lado das facilidades de crédito, que animam o consumo de automóveis e eletrodomésticos, a classe média enfrenta os fortes aumentos no custo de serviços, especialmente em saúde e educação. Passados dois anos e meio da introdução do real, os preços ao consumidor medidos pela Fipe acumulam alta de 60,34%. Mas as consultas médicas aumentaram 154,4% nesses 30 meses, segundo pesquisa inédita da mesma instituição, feita no Estado de São Paulo.
O caso das consultas é um exemplo. Os serviços estão, em geral, na liderança dos aumentos. Segundo a Fipe, o consumidor paga hoje 95,5% a mais pela educação. E as despesas com saúde em geral estão 82,7% mais caras que em junho de 94.
Em muitos países desenvolvidos, o bom atendimento público de saúde e educação inibe altas excessivas nessas áreas. Como esse tipo de serviço não sofre concorrência externa, pois obviamente não pode ser importado, a oferta pública -ainda de grande presença no Brasil- de serviços de qualidade pode conter os preços privados de saúde e educação.
O Plano Real logrou conter o valor dos produtos industriais e agrícolas, que podem ser importados a baixo preço graças à abertura econômica e à valorização cambial. Não obteve, porém, igual sucesso na estabilização dos preços de serviços. E o atendimento público continua a ter qualidade sofrível, para dizer o mínimo.
Os resultados decepcionantes dos exames realizados com alunos do primeiro e segundo graus e as notícias da precariedade do atendimento de saúde não deixam dúvidas quanto ao fraco desempenho das várias esferas de governo nesses setores.
À medida que a utilização dos serviços públicos, salvo raras exceções, continua a ser somente um último e indesejado recurso, é previsível que o preço privado desses atendimentos escassos e necessários tenda a subir.
Por mais poderosas que sejam as políticas de câmbio e juros que sustentaram a estabilização, seu alcance é limitado. Quando se trata de serviços, não há mágica, é preciso combater a ineficiência e investir.

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