São Paulo, domingo, 19 de janeiro de 1997
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Maxilar ajuda a entender a evolução humana

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quando explorava o sítio de Hadar, no chamado Triângulo Afar (Etiópia), o paleontólogo William Kimbel, do Instituto de Origens Humanas, em Berkeley (EUA), encontrou, em 1994, perto do leito do rio seco, duas partes de um maxilar humano que se encaixavam perfeitamente.
A descoberta só foi anunciada, todavia, em 1996 no "Journal of Human Evolution".
A peça tem 2,33 milhões de anos de idade e é possivelmente o mais antigo exemplar de Homo fóssil jamais observado.
O fóssil estava no meio de instrumentos de pedra, que são característicos do Homo. Era também a mais antiga combinação de ossos e artefatos jamais vista.
Em 1973 outro paleontólogo, Donald C. Johanson, explorando o mesmo sítio -o tesouro dos caçadores de fósseis-, encontrara uma articulação de joelho humano perfeitamente conservada, prova de que naquela época já existia a postura ereta e o andar bípede no gênero Homo. No ano seguinte, no mesmo sítio, ele descobriu o esqueleto quase completo de um fóssil feminino e de locomoção e postura bípede e ereta.
O achado, que despertou enorme repercussão, foi pitorescamente chamado de Lucy e tinha 3 milhões de anos.
Um ano depois, Johanson encontrou 13 exemplares fósseis muito parecidos com Lucy, a que pitorescamente chamou de primeira família.
A descoberta de Kimbel aumentou em 400 mil anos a idade do gênero humano, pois o Homo mais antigo, até então, tinha 1,9 milhão de anos.
Entre ele e o achado de Johanson havia, pois, intervalo de tempo suficiente para a linhagem de Lucy, que não era Homo, mas Australopithecus, evoluir para Homo.
Na verdade, foi para tentar achar essa forma de transição que Kimbel foi a Hadar.
Teve sorte, porque entre as duas épocas o tronco dos Australopithecus se dividiu, dando o ramo dos Homo, e o fóssil que ele encontrou, ainda inominado, fica mais ou menos no meio daquele intervalo.
Se ele é ou não o procurado elemento de transição, ou melhor, se ele marca realmente a emergência do Homo, não se pode ainda afirmar porque naquele tempo o tronco humano já dera pelo menos dois rebentos, o Homo rudolfensis e o Homo habilis, muito parecidos.
É preciso mais aprofundado estudo dos exemplares para apurar se Kimbel realmente encontrou o primeiro fóssil humano, cabeça dessa linhagem.
Na busca de explicação da emergência desse fóssil tem-se aventado como hipótese mais plausível a tendência começada há 2,7 milhões de anos para um resfriamento global que atingiu certas partes da África, tornando mais seca as matas úmidas, que se transformaram em savanas. Disso há provas fósseis.
A evolução para Homo pode ter sido consequência de adaptação às novas condições do ambiente. A fabricação de instrumentos e a estatura ereta poderiam talvez ser marcas dessa mudança climática e das novas condições ambientes.

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