São Paulo, quinta-feira, 23 de janeiro de 1997
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Massacre e tumulto

LUÍS FRANCISCO CARVALHO Fº
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

O julgamento de Guilherme de Pádua começou ontem num clima de massacre popular.
Representantes de um "fã-clube" da atriz, membros da bateria de uma escola de samba, mães de crianças desaparecidas, familiares de vítimas da violência e curiosos ocupavam as calçadas. Os manifestantes exibiam faixas e cantavam, confundindo impunidade com direito de defesa.
O advogado de Guilherme foi recebido com gritos de "cadeia" e "safado".
Quando transcorria a polêmica que culminou com a suspensão do julgamento, o advogado de Guilherme de Pádua revelou seu estado de espírito: "A imprensa é o acusador desse processo".
Testemunha ausente
O motivo da suspensão foi a ausência de um perito cujo depoimento havia sido determinado pelo próprio magistrado.
O advogado de defesa protestou, alegando que a testemunha havia dado uma entrevista importante para a TV durante a manhã e que o seu não comparecimento era inaceitável. Para piorar a situação, o juiz anunciou a chegada do perito ao tribunal. Mas não era verdade. Alguém mentiu...
O advogado soube disso quando o interrogatório estava para começar e assegurou que abandonaria o plenário se o perito não comparecesse. Como alternativa, sugeriu a exibição da entrevista aos jurados. O juiz indeferiu a exibição da fita e determinou a localização do perito.
A testemunha não foi arrolada pela defesa, que, por isso, não poderia apontar esse depoimento como prova imprescindível. Portanto, a dispensa do perito dependia única e exclusivamente do juiz, que, diante da ameaça de abandono do advogado, preferiu ceder.
Anunciada a suspensão do julgamento, o plenário reagiu com vaias.
Ameaças da defesa
A promessa de abandono do advogado parece uma reação ao clima de prejulgamento e de hostilidade. Mas o juiz preside o tribunal e deveria estar preparado para isso.
A imprensa noticiou, dias antes, a disposição do advogado. Como ninguém pode ser julgado sem defensor, o juiz poderia ter escolhido, com antecedência, um profissional de reputação para substituí-lo em qualquer eventualidade.
Como não o fez, tornou-se refém da defesa. Prova disso é o recuo no fim da tarde: para não adiar o julgamento, o juiz autorizou a exibição da entrevista do perito. Como queria o advogado.

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