São Paulo, quinta-feira, 23 de janeiro de 1997
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Cultura empaca na alfândega

CASSIANO ELEK MACHADO
ERIKA SALLUM

ERIKA SALLUM; CASSIANO ELEK MACHADO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Toneladas de livros e discos estrangeiros enfrentam problemas nas alfândegas brasileiras.
A afirmação é de donos de livrarias, distribuidores de livros e gravadoras ouvidas pela Folha.
Além deles, consulados e curadores também alegam estar com problemas na liberação de peças de arte que vieram do exterior para exposições no país.
O caso mais recente foi o de 40 obras de artistas franceses e africanos que ficaram retidas no Aeroporto Internacional de Guarulhos, provocando o adiamento da exposição "A Rota da Arte sobre a Rota dos Escravos", no Sesc Pompéia.
Programada para ser inaugurada no último dia 14, a mostra só começará depois do Carnaval.
Essas dificuldades começaram no primeiro dia deste ano, quando a Receita Federal implantou o Siscomex (Sistema Integrado de Comércio Exterior), software que informatiza as operações de retirada de mercadorias das alfândegas.
Os importadores alegam que o novo programa de computador não funciona com eficiência, o que estaria retardando a liberação desses produtos (leia texto abaixo).
Sérgio Herz, diretor da livraria Cultura, afirmou que 13 toneladas de livros importados dos EUA e Europa estão retidas em Cumbica.
Parte desse carregamento permanece parada no aeroporto desde o início do mês.
Só com a taxa de armazenamento nos galpões da Infraero (Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária), Herz calcula que gastou R$ 15 mil.
"O pior é que muitos dos títulos são encomendas dos meus clientes, que acabam culpando a loja pela demora", diz.
Para evitar mais prejuízos, o diretor conta que a Cultura vem estocando livros estrangeiros em armazéns norte-americanos.
As distribuidoras e importadoras também estão tendo problemas alfandegários. A empresa Ebradil, por exemplo, tem 2,6 toneladas de livros portugueses encalhadas na aduana, segundo Alexandre Pereira, diretor comercial.
Já a livraria Siciliano conseguiu fazer com que uma carga de quatro toneladas de livros fosse desembaraçada após 14 dias de espera (em geral, a liberação leva de três a cinco dias), de acordo com o despachante Helber Foltran. "Deveria existir um sistema paralelo ao Siscomex, que funcionasse quando surgissem esses problemas."
A falta de uma válvula de escape também é a reclamação do coordenador de importação da gravadora Sony Music, Fábio Cury, que diz que o "dia de cão do Siscomex ainda não chegou" na empresa.
Outra grande gravadora, a Warner, teve uma carga de 1,5 tonelada de discos estrangeiros barrada nas alfândegas durante 20 dias.
A coordenadora de importações da empresa, Regina Gonçalves, critica a "bagunça da implementação do sistema", em referência ao Siscomex. Segundo ela, essa foi a causa da retenção dos cerca de 10 mil discos de variados gêneros.
"O problema das gravadoras não foi maior porque as lojas ainda têm bons estoques decorrentes das grandes importações realizadas em dezembro", diz Ricardo Monnerat, da PolyGram.
Mesmo com os problemas, Regina, da Sony, está otimista."O sistema está se regularizando", diz.
Outro lado Procurado pela Folha, o chefe da Receita Federal no aeroporto de Guarulhos, Flávio del Comuni, afirmou não ter conhecimento das toneladas de livros retidas na alfândega. "Pode ser que existam. Os problemas podem estar acontecendo no Ministério da Indústria e Comércio", diz Comuni.

LEIA MAIS sobre problemas alfandegários à pág. 4-3

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