São Paulo, quinta-feira, 23 de janeiro de 1997
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A gorda Muriel vira uma magra viciada

ADRIANE GRAU
ENVIADA ESPECIAL A PARK CITY

Desde que se tornou conhecida há três anos, quando abocanhou o Globo de Ouro com o papel-título de "O Casamento de Muriel", a gorda Toni Collette deixou a Austrália para trabalhar nos EUA e na Inglaterra.
Na mudança, teve que usar um treinador para afinar seu sotaque e perder muito peso para ganhar outros papéis, como em "Emma" e "O Primeiro Amor de um Homem".
No momento, ela está ainda mais magra, pois se prepara para encarnar uma viciada em cocaína em "Velvet Gold Mine", filme que tem Tom Hanks no elenco.
Nesta semana, a atriz está apresentando o filme "Clockwatchers", de Jill Spreceher, no Sundance Film Festival.
Na pele de Iris, ela se une a outras empregadas temporárias que sofrem com o preconceito dos funcionários contratados num escritório.
Junta com as colegas Margaret (Parker Posey), Paula (Lisa Kudrow) e Jane (Alanna Ubach), ela sonha com a estabilidade de um emprego fixo, carreira de atriz e até casamento.
Toni Collette recebeu a reportagem da Folha no fim de um longo dia de entrevistas. Mesmo cansada, não deixa de lado a doçura que parece ser a característica comum entre ela e a personagem que a consagrou. Mas se irrita ao ser questionada sobre a perda de peso que ressalta as belas linhas de seu rosto.
*
Folha - Você está muito diferente de Muriel, a personagem que a tornou conhecida. A verdadeira Toni é magra como você está agora ou gorda como Muriel?
Toni Collette - Eu ganhei umas três toneladas para fazer o papel de Muriel. Estou acostumada com perder e ganhar peso para interpretar diferentes personagens. No momento estou perdendo peso para fazer uma viciada em cocaína.
Folha - Você se sente melhor gorda ou magra?
Collette - Depende de como eu e o diretor decidimos visualizar a personagem.
Folha - Mas como você prefere se ver?
Collette - Nós vamos falar sobre peso ou sobre o filme?
Folha - Sobre a mudança que você sofreu para o filme, facilmente percebida pelo público. Então, como você se sente melhor?
Collette - Quando estou saudável.
Folha - Você teve que usar um treinador para mudar seu sotaque no filme "Emma". O sotaque australiano atrapalha sua carreira?
Collette - Na verdade, em "O Casamento de Muriel" eu forjei um sotaque que não tenho. Acho que sou escolhida para papéis por causa do meu talento em geral. Mudar sotaque, o tom de voz, o peso e tudo mais faz parte da profissão.
Folha - Como você se prepara para interpretar seus personagens?
Collette - Mudando e aceitando elas no meu corpo. Começo a pensar como elas, para fazê-las reais.
Folha - Antes de se tornar atriz, chegou a ter uma profissão como a de Iris em "Clockwatchers"?
Collette - Não. Fui sortuda e não precisei fazer nada além de ser atriz desde que parei de estudar, aos 16 anos.
Folha - Onde você mora atualmente?
Collette - Eu moro onde trabalho. A maior parte do tempo em Londres.
Folha - O que lhe atraiu para o trabalho em "Clockwatchers"?
Collette - O brilhantismo do roteiro. É absolutamente lindo e sutil. As mudanças internas pelas quais Iris passa são muito engraçadas e ao mesmo tempo tragicamente tristes.
Folha - Há um renascimento do cinema australiano atualmente. Como você vê isso?
Collette - É maravilhoso, pois percebo que há mais diretores com quem posso trabalhar.
Folha - "Shine" é o filme que carrega a bandeira do cinema australiano atualmente. Você assistiu?
Collette - Sim e adorei. Não há muitos filmes que me envolvam emocionalmente. Chorei convulsivamente. Como Geoffrey Rush é meu amigo pessoal, foi uma experiência ainda mais intensa.
Folha - Rush deve se tornar conhecido pelo papel que lhe deu o Globo de Ouro deste ano, assim como aconteceu com você após ter recebido o mesmo prêmio. Como você convive com a fama de Muriel atualmente?
Collette - É inevitável que me vejam como ela. Mas Muriel mudou minha vida e abriu muitas portas. Acho que é apenas parte do sucesso.

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