São Paulo, sexta-feira, 24 de janeiro de 1997
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Sem-terra fazem 10ª invasão de 97 em SP

DA ENVIADA ESPECIAL AO PONTAL DO PARANAPANEMA

MARILENE FELINTO
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) realizou na madrugada de ontem o que vem a ser sua décima ocupação de terras só neste início de ano.
Desta vez, o alvo foi a fazenda São Luís (a 30 km do centro de Presidente Prudente), cuja área, de 1.500 hectares, foi ocupada por cerca de 200 famílias -mais 400 devem chegar no fim-de-semana.
Segundo José Eduardo Gomes de Moraes, 28, da coordenadoria regional do MST no Pontal do Paranapanema, é a primeira invasão dos sem-terra dentro do perímetro urbano de Presidente Prudente (a 558 km de São Paulo), maior cidade do Oeste do Estado.
"Agora, a tendência das ocupações é obedecer o princípio de que as famílias sejam assentadas dentro do município onde moram", disse Moraes.
"Não tem sentido levar o pessoal para tão longe. E eles reclamam quando saem para um lugar distante."
Perfil
Parte dos ocupantes da São Luís é de desempregados e gente pobre das áreas periféricas de Presidente Prudente.
Maria Leide Fernandes, avó de quatro netos -incluindo o mais novo, de um mês de idade, que veio em um dos ônibus para a ocupação-, é uma dessas pessoas, sendo ex-moradora das favelas de Prudente.
Outra parte dos ocupantes veio do acampamento Santa Rita (em Mirante do Paranapanema), onde há nove dias houve conflito armado entre sem-terra, polícia e seguranças da fazenda Santa Rita.
A ocupação foi finalizada às 5h55, após ter sido organizada a partir das 2h. A Folha acompanhou a invasão durante toda a madrugada (leia texto ao lado).
Acampamento
A invasão da São Luís também se destaca por ser uma das poucas em que o acampamento é montado muito próximo da sede da fazenda -a cerca de dois quilômetros.
A exemplo das outras ocupações recentes do MST, a fazenda São Luís foi escolhida por suspeita de se constituir de terras devolutas (que pertencem ao Estado, mas estão ocupadas por particulares).
A maioria das terras da fazenda é arrendada à Usina Floresta Alta para o plantio de cana.
Para Walter Gomes, 32, coordenador do MST, "uma fazenda que arrenda tanta terra de boa qualidade para o plantio exclusivo de cana e o benefício de um único usineiro não cumpre sua função social".
Sem violência
A ocupação da São Luís foi pacífica, sem interferência da polícia e sem a presença de seguranças. O proprietário da fazenda, Plinio de Arruda Armelin, que mora em Presidente Prudente, não tinha sido localizado até o fim da manhã.
Mas um sobrinho seu, Luís Armelin Jr., dono da vizinha fazenda Santa Genoveva, disse que entraria ainda ontem na Justiça com um interdito proibitório, recurso que impediria os invasores de ocuparem também a sua fazenda.
A família Armelin possui ao todo quatro fazendas na região, que perfazem um total de aproximadamente 5.000 hectares de terra, segundo a coordenação do MST.

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