São Paulo, sexta-feira, 24 de janeiro de 1997
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Metade de Eldorado está sob as águas

ROGERIO SCHLEGEL
DO ENVIADO ESPECIAL A ELDORADO

Cerca de 50% da área central de Eldorado está sob as águas. "O lugar mais seguro na cidade é o cemitério", explica o prefeito Celso Luiz de Freitas (PFL), referindo-se à parte alta da cidade.
A Defesa Civil diz não ter onde alojar os desabrigados. Santa Casa, pronto-socorro, ginásio esportivo e várias escolas, que estavam sendo usados para receber as vítimas da chuva na tarde de ontem, também ficaram alagados.
Desde anteontem, há falta de água e, na tarde de ontem, a cidade ficou sem luz.
O prefeito Freitas acusa a Defesa Civil do Estado de nada ter feito. "Ligamos para o coronel Marcondes para comunicar a calamidade na cidade desde ontem (anteontem) e nada foi feito. Estamos nos virando com voluntários e policiais florestais da região."
Não há nenhuma busca para encontrar os desaparecidos. "O que podemos fazer é tentar salvar os vivos", disse Donizete Oliveira, da Defesa Civil do município.
O tenente-coronel Clodomir Ramos Marcondes, diretor do Departamento de Defesa Civil do Estado, disse que todos os esforços estão sendo feitos, mas que Eldorado é a única cidade em que não foi possível chegar.
"É uma região montanhosa e, com o mau tempo, não conseguimos chegar com os helicópteros. Tentamos também com um barco do Instituto Oceanográfico, mas ele tem pouco potência. E o pior é que os barcos com potência maior são muito fundos e encalham."
Helicópteros enviados de São Paulo, inclusive o da reportagem da Folha, conseguiram chegar à cidade sem problemas durante a tarde de ontem.
Loteria
O resgate das pessoas que ficaram ilhadas nos arredores de Eldorado foi caótico. Ser ou não ser socorrido de barco pelas equipes de salvamento virou uma loteria, porque o improviso tornou impossível estabelecer critérios.
Assim, cem pessoas de um vilarejo rural tiveram que passar a noite sobre um morro, sem água e sem comida, porque só foram avistadas no final da tarde, quando as buscas foram interrompidas.
No local de onde saíam os barcos de salvamento, as pessoas que tinham parentes ilhados se esmeravam no lobby da sobrevivência.
"Lá na Vila Maria (bairro isolado pela água) deixei duas crianças de colo e a cheia já deve estar pelo teto", disse um homem que pedia socorro. "Perto de casa a água sobe mais rápido", repetia um rapaz.
O capitão Geraldo Benedito de Moraes, que comandou os PMs envolvidos na busca, admite que o trabalho teve que ser improvisado, por falta, segundo ele, de apoio da Defesa Civil do Estado e de São Paulo.

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