São Paulo, sexta-feira, 24 de janeiro de 1997
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2º dia de julgamento é favorável à defesa

WILSON TOSTA
DA SUCURSAL DO RIO

O segundo dia do julgamento de Guilherme de Pádua foi favorável à defesa.
O advogado de Pádua, Paulo Ramalho, conseguiu excluir a senadora Benedita da Silva (PT-RJ) da relação de testemunhas da acusação e Raimundo Nonato de Souza, gerente de um posto de gasolina e também testemunha de acusação, passou mal e não vai depor.
Além disso, o frentista Antônio Clarete de Moraes deu detalhes diferentes aos que tinha dado no depoimento à polícia, em 93 (leia texto nesta página).
Para impugnar Benedita da Silva, Ramalho afirmou que a senadora dera, por telefone celular, uma entrevista à repórter Paula Autran, da sucursal carioca da revista "Veja", quebrando a incomunicabilidade em que, por lei, devem ser mantidas as testemunhas durante a realização do júri.
"Não podemos correr o risco de anulação do julgamento", disse o juiz José Geraldo Antônio, do 2º Tribunal do Júri. O juiz afirmou que excluiu a senadora apesar de ela ter dito que só falou com a repórter para marcar uma entrevista.
A convocação de Benedita se devia ao seu envolvimento com o frentista Clarete. Ela convenceu Clarete -evangélico como ela- a prestar depoimento. O frentista diz que removeu manchas de sangue no Santana usado por Pádua na noite do crime.
Todas as testemunhas, antes do início do julgamento, tiveram de entregar ao 2º Tribunal os telefones celulares que eventualmente carregassem. Segundo Ramalho, Benedita manteve o seu.
"O artigo 454 do Código de Processo Penal foi violado", afirmou o advogado de Pádua.
O promotor José Muiños Piñeiro Filho ainda tentou argumentar que a lei prevê apenas que as testemunhas não podem ouvir os depoimentos umas das outras nem os debates entre acusação e defesa.
Carta
Na leitura das peças da defesa e acusação, Ramalho também acabou levando vantagem.
Enquanto o Ministério Público exigiu a leitura de 49 depoimentos -um trabalho que durou das 12h30 às 18h15, sob forte calor- Ramalho selecionou para leitura duas peças: um recurso da defesa e uma carta de Pádua ao juiz.
Com a carta, Ramalho conseguiu recolocar Pádua "falando" ao júri. No texto, diferentemente do depoimento de anteontem, em que, algumas vezes, passou a impressão de arrogância, o réu mostrou-se humilde e apresentou-se como vítima da imprensa e da escritora Glória Perez, mãe de Daniella.
"Fui chamado de michê, leopardo, homossexual e vagabundo", disse, referindo-se à acusação de que se prostituía.
Após perder Benedita, o Ministério Público também teve que abrir mão do depoimento de Raimundo Nonato de Souza, gerente de um posto de gasolina. Nonato passou mal e, segundo o promotor, sua pressão arterial chegou a 24 e não teria condições de saúde para depor. Ramalho concordou.

LEIA MAIS sobre o julgamento nas páginas 6, 7 e 8

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