São Paulo, sexta-feira, 24 de janeiro de 1997
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Presas denunciam espancamento em SP

OTÁVIO CABRAL
DA REPORTAGEM LOCAL

Após uma rebelião, 80 presas da delegacia de polícia de Santa Rosa do Viterbo (305 km a norte de São Paulo) teriam sido espancadas por policiais militares e civis.
As agressões teriam provocado aborto na detenta Nara Carrijo da Cunha, 22, grávida de dois meses. Uma outra detenta teve seu braço quebrado.
A denúncia do espancamento é feita pelo deputado federal Hélio Bicudo (PT-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.
Após ser informado do caso por padres da Pastoral Carcerária, Bicudo visitou as detentas no último dia 20, oito dias depois da suposta agressão, na cadeia de Altinópolis (370 km a norte de São Paulo), para onde foram transferidas.
"Mesmo passados oito dias, ainda persistiam os sinais de ferimentos nas vítimas, o que indica que houve agressão", afirmou Bicudo.
Baseado na denúncia, o Deinter (Departamento de Polícia Judiciária do Interior) abriu uma sindicância para apurar as supostas agressões.
O secretário da Segurança Pública, José Afonso da Silva, foi informado ontem do caso e exigiu que sejam tomadas providências em 24 horas.
O delegado Elton Tésti Renz, titular da delegacia de Santa Rosa do Viterbo, nega que os policiais tenham agido com arbitrariedade (leia texto ao lado).
Enterro
Segundo Bicudo, as presas se rebelaram porque uma das detentas teria sido proibida pela carcereira de plantão de comparecer ao enterro de seu neto, morto em um acidente de trânsito.
Como forma de protesto, as detentas foram para o pátio da carceragem e começaram a bater panelas e canecas nas grades.
Para acabar com a rebelião, os policiais teriam usado o jato de um caminhão-pipa contra as presas.
Como elas não voltaram para as celas, cerca de 20 policiais civis e militares entraram na carceragem, onde teriam espancado as mulheres com golpes de cassetete.
Segundo a denúncia, a detenta Nara teria sido golpeada na barriga, o que teria provocado o aborto. Ela estava detida havia uma semana, acusada de ter furtado um iogurte em um supermercado.
Ainda devido às supostas agressões, Maria Helena Rodrigues Alves, 58, levou dez pontos na cabeça. Doze presas tiveram que ser atendidas na Santa Casa da cidade.
O deputado encaminhou ofícios ao secretário da Segurança Pública e ao ouvidor da polícia de São Paulo, Benedito Domingos Mariano.
No ofício, Bicudo solicita o "afastamento imediato de todos os policiais implicados, procedendo-se à cuidadosa investigação para punir culpados".

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