São Paulo, sexta-feira, 24 de janeiro de 1997
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Jurados dormem com lençol emprestado

MAURO TAGLIAFERRI
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

A primeira celeuma do dia no julgamento de Guilherme de Pádua aconteceu de madrugada e se deveu ao improviso na forma de acomodar os jurados e as testemunhas do processo.
Segundo a assessoria de imprensa do 1º Tribunal do Júri do Rio, pelo menos 36 pessoas dormiram em salas do edifício.
Eram 11 assistentes do juiz (secretários, seguranças, assessores de informática), o próprio juiz José Geraldo Antônio -que teria dormido na sala dele-, o defensor Paulo Ramalho, o réu, 15 testemunhas e peritos e os 7 jurados.
O problema teria ocorrido na acomodação das testemunhas. Ramalho contou que teve de dispensar três delas -os delegados Cidade de Oliveira, Mauro Magalhães e Antônio Serrano-, que estavam "irritadas".
"Os promotores caíram fora, foram para a casinha, e o pepino sobrou para mim e para o juiz. Não vou pegar três testemunhas que estavam irritadas para depois elas destilarem revolta contra meu cliente", disse Ramalho.
Ele afirmou que as declarações dos delegados já constam dos autos do processo. "Foi um gesto de colaboração para dar um mínimo de conforto às testemunhas."
Outra testemunha foi dispensada, pela promotoria: a cabeleireira Luana Ribeiro. "Não era necessário ouvi-la no plenário", disse o promotor Maurício Assayag.
Bancos
O defensor Ramalho contou que juntou dois bancos de madeira e os cobriu com um lençol para dormir, o que só pôde fazer por volta das 4h. Antes, precisou providenciar um banco para Pádua dormir no xadrez, que não teria cama.
Os funcionários do tribunal também improvisaram. Usaram suas salas para descansar.
Jurados, peritos e testemunhas foram dispostos em quatro salas do tribunal, com ar-condicionado, de acordo com a assessoria.
Eles dormiram em beliches cedidos pelo Corpo de Bombeiros, que também ofereceu a roupa de cama.
Divisão por sexos
O grupo fez uso de três banheiros -inclusive para tomar banho-, com divisão por sexo.
Nos quartos, ao contrário, não houve essa separação (ao menos sete mulheres compunham o grupo). "Nós colocamos uma separação, feita com lençóis", contou o assistente do juiz, Evandro Silva.
Ele negou a existência de qualquer problema com as acomodações. Ainda disse que todos dormiram por volta da 1h e tomaram café da manhã às 7h30.
O cardápio incluía mamão, melão, suco de laranja, café, leite, pão, queijo prato e presunto. Todas as refeições -são quatro por dia: café, almoço, lanche e jantar- são fornecidas pelo restaurante Sabor Cristal, situado no bairro da Lapa (centro do Rio).
No almoço e jantar, há opção de pratos com carne de vaca ou de frango. Há acompanhamentos, como arroz e batatas.
Parentes de alguns jurados e testemunhas mandaram entregar a eles roupas limpas pela manhã.

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