São Paulo, sexta-feira, 24 de janeiro de 1997
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Dólares continuam 'invadindo' as Bolsas

Bovespa recebe R$ 600 mi até dia 20

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Os investimentos estrangeiros nas Bolsas brasileiras continuaram fortes neste início de ano, após atingirem mais de US$ 3 bilhões em 96.
Nos 20 primeiros dias de janeiro, a Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo) registrou um saldo de R$ 598,9 milhões nos investimentos externos, numa entrada de "dólares" equivalente a 18% do total recebido em 96 (R$ 3,4 bilhões) e a 83% dos ingressos em dezembro passado (R$ 721 milhões).
Os estrangeiros -incluindo brasileiros com recursos no exterior- enviaram R$ 3 bilhões à Bovespa até o dia 20 e repatriaram R$ 2,4 bilhões.
A participação do capital externo na Bovespa, a maior do país -85% dos negócios com ações em 96 foram em São Paulo- também aumentou nos últimos meses. Até outubro, os estrangeiros respondiam por 27,6%, em média, do volume global da Bolsa. Em novembro, a participação pulou para 37% e, em dezembro, para 38,2%.
Somente no mercado à vista, 43,3% das compras e vendas de ações na Bovespa atenderam ordens de gestores dos fundos do tipo anexo-4, a porta de entrada legal dos dólares no mercado acionário do país.
Para o presidente do Banco Multiplic e da Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F), Manoel Félix Cintra Neto, dois fatores influenciaram as remessas para as Bolsas neste início de ano: expectativas econômicas favoráveis e antecipação à entrada da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), no dia 23.
"Os estrangeiros se anteciparam ao imposto, já que não podem fugir dele na saída", disse o executivo.
A CPMF irá "morder" 0,2% de cada dólar na conversão para real e vice-versa. Se o raciocínio de Cintra Neto pudesse ser aplicado a todos os dólares que entraram ou saíram da Bovespa até o dia 20, a Receita Federal teria deixado de arrecadar R$ 10,8 milhões (0,2% de R$ 5,4 bilhões).
A grande questão -que irá influenciar a decisão final do governo em torno da proposta de insenção da CPMF sobre os dólares das Bolsas- será o comportamento dos investidores externos nos dias restantes do mês após a entrada do imposto.
Cintra Neto afirma que a tendência é um freio na remessa de dólares. Jair Ribeiro da Silva Neto, sócio do Banco Patrimônio, associado ao norte-americano Salomon Brothers, concorda.
'O mercado tende a se transferir gradualmente para Nova York, à medida que empresas brasileiras lancem mais papéis lá fora", avaliou Silva Neto.
Há mais de 40 tipos de ações brasileiras com negociação indireta em Nova York, por meio de recibos (ADRs). Somente a Telebrás tem 25% de seu capital sendo negociado nos Estados Unidos.
"O mercado é pragmático. Se aqui custa mais que lá, os negócios no exterior vão aumentar gradativamente", diz Cintra Neto.
Para o sócio do Patrimônio, a CPMF não ameaça a valorização da Bolsa. A baixa inflação e a reeleição falarão mais alto que o 0,2%.

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