São Paulo, sexta-feira, 24 de janeiro de 1997
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São Paulo descobre comida africana

JOSIMAR MELO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A afirmação da raça negra em São Paulo tem um reforço este mês com a chegada de sabores africanos à cidade.
No vídeo eles aparecem via TV paga, com a estréia da série "A Taste of Africa", percorrendo hábitos alimentares de seis países do continente (leia texto ao lado). À mesa, acontecem com a reabertura do restaurante afro-brasileiro Gamela's, que serve refeições para serem comidas em gamelas (vasilha de madeira) e com colher de pau.
O Gamela's, antes de ser um restaurante africano, é o resultado do samba do crioulo doido em que a cozinha baiana se transformou ao combinar várias influências da casa-grande e da senzala.
Em São Paulo não existe restaurante que represente um país africano específico. Mas onde há comida baiana sempre se sente um certo gosto de África.
"No Brasil, a cozinha africana misturou-se com a da casa-grande e passou a ser influenciada pela religiosidade dos negros brasileiros", explica o chef de cozinha baiano José Carlos Santos, o Tititi, do hotel Transamérica da Ilha de Comandatuba, em Ilhéus (BA).
As ligações africanas de Maria Augusta Antonio -sócia e cozinheira do Gamela's- deram-se por duas vias. "Foi com minha mãe que aprendi a fazer uma cozinha afro-brasileira, mistura das tradições negras com as brasileiras", diz ela, que descende de escravos originários de Angola.
Quando passou a trabalhar com comida, teve outra aproximação com a África, ao cozinhar para festas no consulado do Togo.
Paulista, os pratos de Maria Augusta bebem principalmente da fonte baiana -que foi por sua vez abastecida pela origem africana, como testemunha o matemático Meite Hamadou, 37 anos, há oito no Brasil. Nascido na Costa do Marfim, ele reencontrou na cozinha baiana ingredientes e temperos da África ocidental -como azeite de dendê, pimentas vermelhas, feijão, inhame e mandioca.
No Gamela's, os pratos podem ter sotaques afro-baianos, como o acarajé, ou "afro-mineiros", como o arroz verde feito com carne-de-sol e couve.
Quem gosta de puxar papo pode ficar por horas ouvindo um dos sócios, Genésio de Arruda, discursar sobre a causa negra. Referências culturais espalhadas pelas paredes mostram que ali pode-se comer, mas também militar pela cor de sua pele.
Pela decoração e pela indolência no serviço, o Gamela's lembra sempre a Bahia. Pela comida também, óbvio, mas os pratos são mais diversificados, com algumas sugestões bem diferentes. "Nosso cardápio muda diariamente, com sugestões que sutilmente homenageiam as divindades africanas do dia", conta Maria Augusta.

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