São Paulo, sexta-feira, 24 de janeiro de 1997
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Cinema de verão

ANTONIO CARLOS DE FARIA

Rio de Janeiro - O verão começou de fato. Depois do Natal e Ano Novo, quando há uma falsa sensação de neve no ar, depois das chuvas iniciais de janeiro, o verão chegou e como sempre traz sua moda. Em 97, a moda no Rio parece que é "O Pequeno Dicionário Amoroso".
O sucesso do filme de Sandra Werneck acontece por provocar várias identificações. No filme, situações vividas por um casal, desde a aproximação até a crise do relacionamento, são tratadas com bom humor.
Estreando agora em outras cidades, o filme pode mostrar se é mais uma moda carioca com vocação nacional. Não é uma obra-prima, nem tem a pretensão de ser, mas aponta um caminho para a conciliação entre o cinema brasileiro e o público.
O filme passa longe das obras discursivas dos cineastas que se imaginam filósofos e ao mesmo tempo não tem aquela teatral ingenuidade das coisas malfeitas, duas das características mais presentes na produção nacional.
A discussão de que a obra copia uma fórmula televisiva, aberta por alguns críticos, não tem a menor importância.
A esta altura do milênio, tratar a TV como manifestação inferior é um pensamento residual, próprio dos debates travados quando ela ainda era quase experimental. A interação entre TV e cinema é mais que irreversível, é saudável para ambos os meios.
Além das identificações sentimentais, o carioca está surpreso por ver na tela sua cidade sem que ela pareça uma Babel crivada por balas perdidas. Antes que a patrulha acuse Sandra Werneck de esconder a cidade real, é bom dizer que o Rio que ela retrata existe para seus personagens e para os que vivem como eles.
Quem quiser ver outra cidade, que conte outra história. Nessa linha, o melhor exemplo recente foi "Como Nascem Os Anjos", de Murilo Salles, que chegou um pouco antes do verão.

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