São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 1997
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Defesa muda estratégia pouco antes do fim

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

Nos últimos minutos da apresentação da defesa do réu Guilherme de Pádua, seu advogado, Paulo Ramalho, apresentou aos jurados uma "tese subsidiária" de defesa.
Segundo essa tese, apresentada ao final de uma exposição de duas horas e vinte minutos, Pádua teria desferido os golpes fatais contra Daniella Perez pensando que ela já estivesse morta.
Foi a primeira vez que o advogado admitiu a possibilidade de o acusado ter sido realmente o autor dos golpes fatais.
Sustentada durante a maior parte da exposição, a tese principal de Ramalho, 39, procurou desvincular Pádua da autoria do crime.
"Não há a menor dúvida. Não foi Guilherme quem desferiu os golpes que mataram Daniella Perez", disse o advogado aos jurados.
Ao final da exposição, já no acréscimo concedido pelo juiz José Geraldo Antônio, Ramalho apresentou a segunda tese, uma espécie de recado ao júri.
"Se ainda assim tivesse sido o Guilherme, ele erroneamente acreditava que Daniella estivesse morta. Portanto não tinha intenção de matar alguém que, por uma tragédia, imaginava que estivesse morta", disse Ramalho.
A observação do advogado visou reforçar junto aos jurados a impressão de que, se cometeu o crime, Pádua o fez de forma culposa (sem intenção). O homicídio doloso (intencional) é punido com mais rigor pela Justiça.
O calor intenso no 1º Tribunal do Júri levou Ramalho a pedir ao juiz a interrupção da apresentação de suas teses.
O advogado disse ter sofrido uma súbita queda de pressão. Após 30 minutos, ele se recuperou e voltou ao plenário para continuar falando aos jurados e à platéia que lotava o tribunal.
Ramalho dedicou a primeira meia hora de fala a críticas à imprensa. Segundo o advogado, Pádua e a família acreditam que "o julgamento é de cartas marcadas".
Ele chegou a comparar a situação de Pádua à dos donos da Escola Base de São Paulo, acusados em 1994 de praticarem sexo com estudantes. A escola foi fechada e seus donos responderam a processo criminal. Mais tarde, foram inocentados.
"O Brasil inteiro ouviu no glamour de Cid Moreira que eles (os donos da escola) eram violentadores de crianças. O que saiu na TV depois que foi provada a inocência? Nada", disse o advogado.
A existência de um caso amoroso entre Pádua e Daniella voltou a ser defendida por Ramalho. "Quantas e quantas vezes pessoas casadas se apaixonam ou se envolvem, sobretudo no meio artístico?", perguntou.
Ramalho criticou a acusação, que não teria conseguido apresentar o motivo para o crime.

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