São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 1997
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Nassif e Raposo

JUCA KFOURI

Entre as tantas contribuições da série de artigos de Matinas Suzuki Jr., uma merece um comentário à parte pela lembrança que me despertou.
Suzuki cita uma conversa com Luís Nassif quando ouviu dele que os dirigentes brasileiros ainda não têm consciência de que quando vendem um Ronaldinho não estão vendendo um craque, mas audiência.
É a pura verdade.
O que me lembrou um velho compromisso de Nassif, numa conversa comigo, sobre a sua participação no debate sobre os caminhos de nosso futebol.
Cobro aqui a promessa sem a pretensão de pautá-lo, mas só pela certeza de que sua contribuição será inestimável.
E, modestamente, trato de ameaçá-lo. Ou ele traz sua lúcida cabeça para iluminar a discussão ou passarei a dar minhas pitadas sobre os rumos da economia brasileira.
Em nome da saúde mental do leitor, portanto, que Nassif não permita tal descalabro.
*
Porque é isso mesmo. Bom futebol é mais que nunca sinônimo de grandes audiências, razão pela qual a TV deveria ser a primeira interessada em liderar a limpeza de que o futebol brasileiro necessita.
Uma semana de o "Jornal Nacional", por exemplo, apenas fazendo bom jornalismo, ouvindo os dois lados, mostrando como é lá fora e por que a ganância de nossos "amadores" impede que seja igual no país tetracampeão, seria o suficiente para derrubar os esquemas que infelicitam os gramados nacionais e fraudam os mais simples direitos do torcedor, do consumidor, do cidadão.
Ao contrário, o que temos visto é a simples conivência com o banditismo vigente, muitas vezes até reforçando a atual estrutura, o que, entre outras coisas, atinge mortalmente a credibilidade dos profissionais envolvidos, alguns que buscam apenas sobreviver e outros que são cúmplices, vendendo placas e fazendo caixa 2.
*
É, aliás, neste contexto, que se insere a explosiva entrevista do administrador do Maracanã, Raul Raposo, concedida ao "Jornal do Brasil" na última terça-feira.
Caso raro de profissional que trabalha no sentido de extinguir seu cargo, comandante do processo de privatização do estádio, Raposo revela inúmeras tentativas de suborno de que foi alvo, realidade conhecida, mas sempre relegada aos usos e costumes da podridão vigente em nosso esporte.

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