São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 1997
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Guerra mudou panorama político russo

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

A guerra na Tchetchênia não representa apenas a luta pela independência de uma região russa. Para Moscou, o conflito decide o futuro de personagens do seu mundo político, agita o fantasma da desintegração num país com arsenal nuclear e demonstra a disputa pelo controle do petróleo presente nas terras tchetchenas.
O conflito chegou a ameaçar o futuro político do presidente Ieltsin. Ao enviar as tropas em 1994, ele imaginava que os rebeldes seriam esmagados "em alguns dias", conforme avaliou o então ministro da Defesa, Pavel Gratchev.
As Forças Armadas russas se retiraram depois de 21 meses de combates e sucessivas derrotas. Um esboço de acordo de paz foi alcançado em maio. Ieltsin queria recuperar-se às vésperas da eleição presidencial de junho, quando enfrentaria os neocomunistas.
A estratégia teve sucesso. Ieltsin, durante a campanha, apresentou a frágil paz na Tchetchênia como um de seus trunfos principais. Os combates recomeçaram logo após o anúncio da vitória ieltsinista.
A derrota ainda evidenciou a crise que atinge as Forças Armadas russas e facilitou a ascensão política de Alexander Lebed, o general que se transformou no político mais popular da Rússia de hoje.
Lebed chegou em terceiro lugar no primeiro turno da eleição. Seu apoio foi decisivo para a vitória de Ieltsin e, como retribuição, o general ganhou um cargo no governo.
O então secretário-geral do Conselho de Segurança foi o responsável pelo acordo de paz definitivo firmado em agosto.
O acordo ajudou Lebed a ganhar mais pontos junto ao eleitorado. Hoje, o general, que foi afastado do governo, é o principal candidato à sucessão presidencial.
A Tchetchênia representa, além de derrotas para Ieltsin, a ameaça de o separatismo golpear a Rússia. O país é uma federação formada por 68 regiões e 21 "repúblicas autônomas", criadas a partir de grupos étnicos, como o tchetcheno.
Moscou também não quer perder as reservas petrolíferas da Tchetchênia. Segundo versões não-confirmadas, o primeiro-ministro russo, Viktor Tchernomirdin, teria defendido a invasão com o argumento econômico, ou seja, a importância do petróleo para o governo central.
(JS)

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