São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 1997
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Irlanda lembra 25 anos do 'Bloody Sunday'

LUCIA MARTINS
DE LONDRES

O aniversário de 25 anos da morte de 14 jovens -a maioria com menos de 20 anos- em um domingo que ficou conhecido como o "Bloody Sunday" reacende as esperanças de parentes e sobreviventes de que o caso seja reaberto.
No "domingo sangrento", soldados britânicos atiraram e mataram jovens que participavam de uma marcha anti-Reino Unido em Londonderry, a maior cidade católica da Irlanda do Norte.
Os manifestantes afirmaram que não estavam armados e que o ataque foi planejado e criminoso.
O governo conservador da época, por sua vez, disse que os mortos eram todos do IRA (Exército Republicano Irlandês, que luta pelo fim do domínio britânico sobre a Irlanda do Norte) e que também atiraram contra os soldados.
Nunca nada foi provado contra as vítimas, assim como também nada foi provado contra os soldados que atiraram ou os comandantes que deram as ordens. Ninguém foi preso ou condenado.
Durante quase 15 anos, os documentos do caso ficaram inacessíveis. O Comitê Bloody Sunday (que reúne familiares de vítimas e sobreviventes do ataque) afirma que os depoimentos foram alterados, e as provas, destruídas.
Eles alegam que o ataque foi planejado pelo governo britânico para "assustar" os manifestantes, que, nos seis meses antes do ataque, mantinham fechada parte da cidade. Dizem que os tiros foram dados à queima-roupa e de cima dos muros que cercam a cidade.
"Foi um massacre. Todos estavam desarmados e faziam um protesto pacífico. Quando, de repente, eles começaram a atirar", disse à Folha Don Mullan, que lançou na semana passada um livro em que ele reúne evidências contra o Exército do Reino Unido.
Aos 15 anos, Mullan estava na marcha e viu "colegas e vizinhos morrerem e serem feridos".
Em "Testemunha do Bloody Sunday", ele analisou os arquivos do casos. Segundo ele, em pelo menos cinco vítimas o estudo do percurso das balas prova que os tiros vieram de cima dos muros.
Na semana passada, o porta-voz dos Trabalhistas na Irlanda do Norte, Eric Illsley, afirmou que, se o partido vencer as eleições gerais (marcadas para maio próximo), o caso poderá ser reaberto.
"Vamos estudar as novas evidências", disse Illsley na última quinta-feira. De fato, um grupo de parlamentares trabalhistas já assinou petição por novo inquérito.
Segundo ele, sem o esclarecimento do caso será difícil pôr fim à violência que ganhou força às 16h10 do dia 30 de janeiro de 72, quando cerca de cem soldados abriram fogo contra os manifestantes em Londonderry.

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