São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 1997
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Ativista viu amigo morrer

LUCIA MARTINS
DE LONDRES

O presidente do Sinn Fein em Londonderry, Jerry O'Herr, tinha 18 anos em 1972 e viu um amigo morrer naquele domingo, dia 30 de janeiro.
Ele tinha ido participar da marcha acompanhado do vizinho Jerry Dunagh, 17. "Mas tive de voltar sozinho porque Dunagh foi um dos 14 atingidos e mortos pelo Exército. Não acreditava no que estava acontecendo", disse.
E acrescentou: "Ninguém provocou ou atacou os soldados. Eles simplesmente desceram dos veículos e começaram a atirar, e as pessoas correram. Ninguém esperava que aquilo fosse acontecer".
Ele afirma que havia barreiras feitas pelo Exército e pela população -que não queria que o Exército entrasse na cidade.
No ponto de encontro entre os dois grupos, os manifestantes que haviam sido impedidos de continuar decidiram voltar e desistir.
"Apenas alguns decidiram tentar passar e desafiar o Exército, mas não houve jeito. Além das armas, eles começaram a atirar bombas de gás lacrimogêneo."
Imprensa
Mas a lembrança que mais incomoda O'Herr não é a do dia das mortes, mas o momento seguinte.
"A imprensa britânica e o governo afirmaram que as vítimas tinham ligações com o IRA, que eram terroristas, mas tudo isso era mentira. Eram todos adolescente e a maioria nunca tinha nem feito parte de um protesto. Além de mortos, eles ainda levaram fama de terroristas e assassinos."
Há mais de 15 anos no Sinn Fein (braço político do IRA, o Exército Republicano Irlandês), O'Herr afirma que, na época, nem ele nem seu amigo morto tinha qualquer ligação com partidos políticos ou grupos paramilitares.
Envolvimento político
"Eu estava desempregado, e o meu amigo estudava. Fomos à marcha como todos na cidade foram. Mas, é claro, que depois daquele dia o meu envolvimento político começou."
O'Herr é um dos que estão fazendo uma campanha junto ao Partido Trabalhista britânico (possível ganhador das próximas eleições gerais de maio) para tentar reabrir o inquérito do caso.
"Sei que a maioria dos depoimentos das testemunhas foi alterada e que o caso foi abafado. Nunca houve punições, mas ainda tenho esperanças de que isso seja esclarecido", afirmou O'Herr.
(LM)

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