São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 1997 |
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Quase um país, Tchetchênia elege líder
JAIME SPITZCOVSKY
A Tchetchênia foi palco de uma guerra sangrenta entre os rebeldes separatistas e as tropas russas enviadas pelo presidente da Rússia, Boris Ieltsin. O conflito, iniciado a 11 de dezembro de 1994, durou 21 meses e deixou pelo menos 40 mil mortos. Há estimativas que apontam para um total de até 80 mil mortos, em sua maioria civis. As forças do Exército russo, mal preparadas e castigadas por problemas financeiros, não conseguiram derrotar rebeldes estimulados pela idéia de acabar com a dominação de Moscou, iniciada em 1859, e de criar um país islâmico chamado Ichkeria. Presidenciáveis Os principais candidatos atravessaram a guerra como comandantes militares. O favorito é Aslan Maskhadov chefe das tropas rebeldes e principal negociador do acordo de paz assinado em agosto passado. Apesar de ser um defensor da independência, Maskhadov emerge como uma liderança capaz de negociar com o poder central. O acordo de paz prevê que os laços que unem Tchetchênia e Moscou sejam definidos apenas em 2001, embora o governo russo aceite falar apenas em mais autonomia e recuse a idéia de independência. Moscou teme uma eventual vitória de Chamil Basaiev, apontado como candidato em ascensão. O comandante rebelde cultiva uma imagem de herói com diversas vitórias sobre tropas russas e guarda como ponto alto de sua carreira um ataque, em 1995, a um hospital no sul da Rússia. Depois de fazer mais de cem reféns, Basaiev e seus homens conseguiram retornar à Tchetchênia e deixar a mensagem de que sua guerrilha também era capaz de atingir alvos em outras partes da Rússia. O atual presidente tchetcheno, o poeta Zelimkhan Iandarbiev, é outro candidato com chances de vitória. Sem grandes trunfos militares, ele busca se apresentar como o sucessor do presidente Djokhar Dudaiev, que proclamou a independência da Tchetchênia em 1991 e foi dado como morto em um ataque russo em 1996. Na semana passada, Iandarbiev patrocinou a mudança do nome da capital, Grozni, para Djokhar-Ghala, que em tchetcheno significa a Cidade de Djokhar. O candidato, durante a cerimônia, discursou em nome da "unidade nacional" e exortou os seus rivais a apoiá-lo. Mas a coesão dos tempos da guerra deu lugar à pulverização das candidaturas. Além de Maskhadov, Basaiev e Iandarbiev, mais um candidato apresenta chances de vitória: Movladi Udugov, chefe da máquina de propaganda tchetchena durante o conflito. Muitos tchetchenos se viram consternados com uma campanha presidencial cada vez mais amarga e agressiva. Cidadãos mais velhos, figuras respeitadas nesta sociedade, pediram que os candidatos mais fortes se unissem numa chapa única. Resistência russa Moscou espera deter o avanço separatista ao contestar a validade das eleições. O governo russo já sinalizou que pode não reconhecer o pleito caso não sejam organizados postos de votação em diversas regiões fora da Tchetchênia, como Moscou, para permitir o voto de refugiados. As autoridades tchetchenas organizaram alguns postos eleitorais em regiões vizinhas à Tchetchênia, mas não querem atender à reivindicação de Moscou. O governo da república separatista diz ter evidências de que a Rússia trabalha para desestabilizar a região. Segundo os tchetchenos, foram os russos que assassinaram seis integrantes da Cruz Vermelha em dezembro último. Moscou, por seu lado, questiona a ajuda financeira oferecida pela Organização para Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), entidade com sede em Viena e que busca aproximar os países do continente. A Comissão Central Eleitoral tchetchena recusou dinheiro do governo russo, mas aceitou US$ 670 mil da OSCE para financiar a eleição. Moscou argumenta que a lei russa proíbe eleições realizadas com recursos vindos do exterior. A OSCE também organiza a presença de 60 observadores para acompanhar o processo eleitoral. O jornalista Jaime Spitzcovsky foi correspondente da Folha em Moscou entre 1990 e 1994 Texto Anterior: Grande Muralha data da mesma época Próximo Texto: Isolamento e dependência são armas russas Índice |
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