São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 1997
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Apenas um imenso cansaço

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Dizem alguns que a idade traz maior tolerância, maior capacidade de relevar os incontáveis defeitos da natureza humana.
No meu caso, a idade está trazendo o contrário, pelo menos no que se refere aos ainda mais incontáveis defeitos dessa raça chamada genericamente de políticos.
Tenho sido dos poucos a defendê-los contra a crença, mais ou menos generalizada, de que são todos salafrários, picaretas e vai por aí afora. Muitos de fato o são, mas é um odioso preconceito generalizar a acusação. Há um punhado deles que merece respeito.
Mas, nesses intermináveis capítulos da novela da reeleição, faltam heróis e abundam bandidos, no sentido figurado, claro.
Em quase todos os episódios anteriores de grandes decisões pelo Congresso Nacional, os perfis estavam muito mais nítidos. Para o meu gosto, pelo menos, quem se batia pelas diretas-já, em 1984/85, era herói. Quem era contra virava bandido.
Não foi preciso muito tempo para descobrir que havia heróis e bandidos de ambos os lados da cerca. Idem, idem, para episódios como os quatro/cinco anos para Sarney, o impeachment de Collor etc.
Desta vez, no entanto, a coisa embaralhou de uma vez. Vejamos, por exemplo, a maioria dos senadores do PMDB, ora rebelados contra a votação da emenda da reeleição. Dos 22, 20 são a favor da reeleição e se rebelaram apenas contra a data. Não me consta que algum herói antigo ou moderno tenha ganho esse rótulo por defender uma data, apenas uma data.
Vale idêntico raciocínio para o presidente Fernando Henrique Cardoso e os demais governistas, que cravaram a sua linha de defesa em torno da votação imediata. E, pior, vendem quase escancaradamente a tese de que ou dá FHC de novo em 98 ou é o caos.
Alguém já disse "pobre do país que precisa de heróis". Faltou acrescentar: "Mais pobre ainda é o país que precisa de salvadores da pátria".

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