São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 1997
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Descobrindo a serra

TOMAZ AUTRAN

Comida caseira, pinga, esportes e agitação noturna atraem curiosos para a "distante" serra da Cantareira
O caminho é longo e, ocasionalmente, árduo. Os cerca de 40 km que separam o centro de São Paulo da serra da Cantareira são recheados de percalços: bifurcações que causam dúvidas sobre o rumo a ser tomado, favelas, estradas esburacadas e má sinalização.
Avenida Santa Inês, estrada Santa Inês, cabras na pista e placa já indicando Mairiporã quase levam a desistir. Mas, assim que passar a tal placa, começa a diversão na serra, e o verde, o ar puro -e mais frio- e a tranquilidade fazem esquecer qualquer dificuldade.
São restaurantes, boates e bares, alguns recentes e outros tradicionais, com muita história para contar.
O Velhão
O engenheiro mecânico Moacir Archanjo dos Santos, 60, morador da região há 20 anos, é dono de O Velhão, uma espécie de depósito de objetos de construção e decoração raros, como tijolos do início do século e pinho de riga, um tipo de madeira trazido por ingleses há mais de 200 anos. Conhecido em todo o Brasil, seu Moacir tem muitos clientes em São Paulo e no Rio.
Ao chegar no local, todos recebem o mesmo tratamento: são oferecidos pinga caseira e um belo almoço, servido no restaurante As Véias, aberto há um ano no próprio Velhão.
Lá, o cliente se serve direto das panelas sobre o fogão a lenha. A comida é do tipo de fazenda. Por R$ 6 durante a semana, R$ 10 aos sábados e R$ 11 aos domingos, pode-se comer o quanto quiser, inclusive escolher entre pelo menos uma dúzia de doces caseiros. No final, cafezinho com bolinho de chuva. "É um restaurante com 400 anos de experiência", brinca seu Moacir, referindo-se às cinco cozinheiras octagenárias.
Bar do Pedrão
Velho conhecido dos paulistanos, o Bar do Pedrão está no mesmo local desde 1939 e começou como uma loja de secos e molhados. Anos depois, Pedro Pereira da Silva, o Pedrão, comprou o ponto e montou seu bar com a ajuda dos filhos.
O chão de terra batida, as galinhas e os cachorros que passeam pelo terreno e os quiosques de sapê passam um ar bucólico. No entanto, o Bar do Pedrão é um dos pontos mais agitados da Serra.
Frequentado inicialmente por motoqueiros, que deixavam seus carros no bar enquanto faziam trilhas com as motos, hoje há até famílias vindo provar a costela com mandioca e sua canelinha.
Em 1992, quando foi inaugurada a pizzaria do bar, a frequência passou dos limites. "Ficava lotado demais, vinham literalmente milhares de pessoas", garante Adnan Pereira da Silva, filho do Pedrão. Os tempos mudaram e o bar está mais tranquilo, com menos brigas e confusões, comuns há alguns anos.
Dib e Nahara
O restaurante Dib, de propriedade do casal Antônio e Iraídes Dib Assad, surgiu por acaso. O casal Dib, recém-aposentado, recebeu encomendas de pão caseiro de amigos. Daí para a construção do restaurante, que serve comida caseira mineira há 16 anos, foi um pulo.
Hoje, o antigo engenho puxado a cavalo tem vários salões, uma loja de artesanato e um picadeiro onde as crianças podem andar a cavalo ou de charrete. "Faço questão de ficar na panela, quem coordena a cozinha sou eu", afirma dona Iraídes, que também é dona do Sítio da Criança, onde recebe excursões escolares.
A boate Nahara, dos irmãos Thiago e Rodrigo Tarekian, foi inaugurada em 28 de novembro do ano passado. Localizada em uma casa arrendada do Velhão (que fica exatamente em frente), a casa mescla o antigo com o moderno. Antigo na decoração, com peças do Velhão, e moderno no som e na iluminação.
"Queríamos dar aos jovens da zona norte e arredores da serra uma casa de alto padrão", diz Helinton Souza, gerente da boate. Parece ter dado certo. A estudante Roberta Ribeiro, 17, visitou a casa pela primeira vez na última semana e aprovou: "Adorei, o ambiente e a decoração são demais. Além disso, só tem gente bonita. Foi uma surpresa."

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