São Paulo, domingo, 26 de janeiro de 1997
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Mocidade põe a Globo na avenida

DANIEL CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Acho que estou enlouquecendo", diz, alucinadamente, o designer Hans Donner, criador da programação visual da Rede Globo, sobre sua primeira experiência no comando de um desfile de escola de samba.
Donner -que nasceu em 1948 na Alemanha, foi criado na Áustria e vive no Brasil desde 1975- é o homenageado da escola paulistana Mocidade Alegre, com o samba-enredo "Hans Donner - O Mago e seu Universo".
Quando a escola entrar no Sambódromo de São Paulo, às 4h35 do próximo dia 9 (horário previsto), o público verá desfilar um pouco da história da Rede Globo, representada por algumas criações de Hans Donner, como a abertura do "Fantástico" e a vinheta usada pela emissora na Olimpíada de Atlanta.
Hans Donner está ficando louco porque, ao assumir a supervisão do Carnaval da Mocidade, acabou virando carnavalesco e projetou um desfile "revolucionário", que promete impacto.
Suas alegorias são futuristas, com formas geométricas -cheias de cones, esferas e círculos, assim como suas criações. Abusam de materiais como plástico e vidro e de tintas metálicas.
Para que o desfile seja fiel à sua obra, Donner não faz concessões. As plumas, enfeites "obrigatórios" das fantasias, foram quase banidas -só um destaque, entre os quase 3.000 foliões da escola, usará o adorno.
A ala das baianas é um exemplo de ruptura com com a tradição do Carnaval. No lugar da longa saia rendada, entram cones de plástico, com as cores do arco-íris e um círculo metalizado na base. "Isso é um abuso", diz Donner, entusiasmado.
No carro abre-alas há outro "abuso": 12 destaques usarão fantasias que representam cada signo do zodíaco. As peças foram projetadas em Viena (capital da Áustria) por Silvia Trenker, ex-mulher de Donner.
"Globeleza"
Donner foi "convidado" para ser homenageado pela Mocidade Alegre durante o desfile do ano passado, quando a mulher dele, a "Globeleza" Valéria Valenssa, brilhou como destaque.
Meses depois, Donner resolveu assumir o comando do desfile. Ele não gostou das alegorias concebidas por Franky Gal, idealizador da homenagem, que havia projetado até uma nave espacial como carro alegórico.
"Quando vi aqueles desenhos, com muitas plumas, falei: 'não façam isso comigo!'. Não tem nada a ver comigo", lembra.
Donner acabou nomeando um carnavalesco de sua confiança, o também designer Orlando Midaglia. Com isso, Franky Gal saiu da escola e iniciou uma batalha jurídica que pode prejudicar o espetáculo -a escola poderá ter de indenizar Gal, sob ameaça de não poder desfilar.
"Isso está sendo muito doloroso", afirma o designer, que tem trabalhado todos os fins-de-semana e feriados no barracão da escola, sob um viaduto na zona oeste de São Paulo. "Passei o réveillon trabalhando e estou pondo dinheiro do próprio bolso na escola", conta.
Eufórico com o resultado que vem conseguindo, Donner se exalta diante da "simplicidade e limpeza das formas" das alegorias. "Essa é a maior loucura que fiz. O trabalho equivale a fazer três aberturas do 'Fantástico' de uma só vez", afirma.

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