São Paulo, segunda-feira, 27 de janeiro de 1997
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Texto inédito de Luiz Cabral lava todas as roupas sujas

DANIELA ROCHA
DA REPORTAGEM LOCAL

Imagine a cena: um homem está cozinhando e, enquanto isso, faz uma série de acusações contra sua mulher. O quadro parece de uma separação.
Ele desabafa todas as broncas que recebeu calado, todas as picuinhas que ela o fez engolir por anos. O tom dos insultos a ela aumenta de intensidade até que se descobre que, na verdade, ele estava cozendo a própria mulher.
Esta é a sinopse do monólogo "O Jantar", de Luiz Cabral, que terá leitura amanhã, às 19h30, na Folha (leia texto ao lado).
Autor de "Violeta Vita" -com enfoque na natureza essencialmente feminina- e de "No Olho da Rua" (atualmente em cartaz no Centro Cultural São Paulo), Cabral tem a característica do texto ágil, da comunicação direta, das frases curtas e diálogos ligeiros.
Com "O Jantar" não é diferente. "O texto tem 25 minutos de leitura. Ele firma mais o estilo das frases precisas, sem rodeio, que marcam minha produção", diz ele.
A ação de fazer dela o seu jantar, uma situação essencialmente brutal, assume no monólogo um lado hilário, um humor doméstico. Mas o autor esclarece que se trata de um texto que aborda a relação do ponto de vista do homem.
Tudo começou quando Cabral iniciou uma pesquisa com jornais. "Queria fazer um trabalho sobre crimes passionais e comecei a levantar casos em jornais."
Assim ele encontrou notícias e mais notícias de homens que mataram suas mulheres e namoradas. "As relações ficam tão deterioradas que as picuinhas geram uma grande agressividade."
Motivos aparentemente inócuos, como uma taça quebrada, fios de cabelo deixados na pia do banheiro e jornal fora do lugar deflagram uma tragédia.
A pesquisa com os fatos reais foi abandonada, mas a idéia de escrever "O Jantar" partiu dela.
O personagem central, o marido, não tem nome. Mas ele fala da Clara, sua mulher, e conta os fatos da vida dela.
Apesar de apenas um deles estar em cena, o espectador fica sabendo quem é e como é cada um e percebe que ela teria ultrapassado o limite da complacência dele.
"Mas não se trata de uma análise pueril. O texto entra na relação humana sem perder o lado poético", diz Cabral.
"O Jantar" deve ser encenado no segundo semestre.
(DR)

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