São Paulo, quinta-feira, 30 de janeiro de 1997
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Bancos já disputam os pré-datados

CLÁUDIA PIRES
MILTON GAMEZ

MILTON GAMEZ; CLÁUDIA PIREZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Grandes instituições começam a dar crédito com garantia dos cheques; taxas são mais baixas

Os bancos estão entrando com força na concessão de crédito aos clientes do comércio varejista, aproveitando a medida do Banco Central que autorizou, na semana passada, o desconto de cheques pré-datados.
Grandes instituições, como Bradesco, Bamerindus e Safra, já estão concedendo empréstimos com garantias em pré-datados, cobrando juros mensais em torno de 2,5% a 5%, em média, conforme o cliente. Outros, como Banco do Brasil, Unibanco e Excel Econômico, preparam-se para lançar o novo serviço na próxima semana.
O Bradesco não definiu um volume de financiamento para atender aos lojistas e outros varejistas, como postos de gasolina e supermercados. Mas está se preparando para ter uma carteira de pré-datados acima de R$ 700 milhões.
"Não temos um número específico, mas gostaríamos de alcançar a nossa carteira de descontos de duplicata, de R$ 700 milhões. O que tiver, nós faremos", disse Márcio Cipriano, vice-presidente do Bradesco.
No Bamerindus, que passou a descontar os cheques pré-datados recebidos pelos comerciantes desde segunda-feira, o volume de operações -cerca de 500- atingiu R$ 6,5 milhões nos dois primeiros dias. O valor médio diário dos créditos chegou a R$ 13 mil.
"Isso deve movimentar muito o comércio, pois o volume de pré-datados no mercado é grande. Os bancos passaram a oferecer um crédito que antes era buscado apenas nas empresas de factoring."
As empresas de factoring (fomento comercial) são companhias não-financeiras que descontam cheques pré-datados e adiantam outros recebimentos de vendas a prazo para o comércio, cobrando juros de até 10% ao mês.
Na realidade, a medida do governo está trazendo para o sistema bancário formal operações que já eram realizadas por alguns bancos, por meio de companhias de factoring coligadas ou pela custódia informal dos cheques, dados como garantias nos empréstimos de capital de giro.
"Temos uma carteira de R$ 1,1 milhão em nossa empresa de factoring. As novas operações serão trazidas para dentro do banco", diz Alex Zornig, diretor do Boston.
Para os grandes bancos, a vantagem é um novo acesso ao mercado de crédito para pequenas e médias empresas, que não têm limites elevados de empréstimos nas carteiras tradicionais de descontos de duplicatas e capital de giro.
"Os cheques pré-datados movimentam muito dinheiro e os bancos poderão oferecer crédito mais barato do que as empresas de factoring", disse Waldir Martins, superintendente de produtos do Excel Econômico.
Para Marcelo Zalceberg, diretor de produtos do Unibanco, o risco dessas operações limita a entrada agressiva do banco neste primeiro momento. "A inadimplência ainda está muito alta."
Mas os bancos têm uma boa vacina contra eventuais calotes dos consumidores. Os cheques pré-datados que não tiverem fundos serão devolvidos aos lojistas, que terão de arcar com o prejuízo -como fazem as empresas de factoring.
"O risco do crédito é do lojista. caso contrário, o comércio não teria cuidado no financiamento com pré-datado", afirmou Cipriano.

LEIA MAIS sobre pré-datados à pág. 2-8

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