São Paulo, quinta-feira, 30 de janeiro de 1997
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O caso Acesita

LUÍS NASSIF

Ex-presidente da Vale do Rio Doce, o atual presidente da Acesita, Wilson Brummer, entra em contato com a coluna para rebater críticas contra sua atuação ma operação de tentativa de aquisição da Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST).
Brummer garante que a operação proposta seguiu estritamente a lógica de crescimento da companhia, a Acesita está bem das pernas e vai colher os frutos dos investimentos efetuados.
Brummer foi convidado para presidente da companhia pelo pool de fundos que assumiu seu controle.
Em 1992, ano da privatização, a companhia havia perdido US$ 100 milhões. Os prejuízos acumulados chegavam a US$ 600 milhões. Nos últimos dez anos, os investimentos médios anuais não chegaram a US$ 20 milhões -menos da metade do valor da depreciação.
A primeira etapa da reestruturação consistiu na mudança do mix de produtos e no enxugamento do quadro de pessoal, de 7.600 para 4.200. Foi suficiente para, já em 1993, a companhia lucrar US$ 31 milhões, US$ 79 milhões em 1994 e US$ 34 milhões em 1995.
Simultaneamente ao ajuste, foi planejado um programa de investimentos da ordem de US$ 500 milhões, visando ampliar a capacidade da empresa, única fabricante de produtos inox e silício na América do Sul.
Estratégia
Enquanto reestruturava a empresa, diz Brummer, não podia deixar de lado a visão estratégica. É uma empresa pequena, fortemente dependente de um só produto, o aço inox.
A companhia decidiu diversificar. Adquiriu 31% do capital votante da Aços Villares.
No meio do programa de investimentos, os bancos resolveram sair de sua posição na Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e Usiminas.
O momento de crescer chegou antes da hora, admite Brummer. Além dos pesados investimentos internos, a Acesita amargava queda de 30% nas cotações internacionais de inox.
Mas como perder a ocasião? Os sócios foram consultados e aprovaram a ofensiva sobre as posições dos bancos.
A Acesita desinteressou-se da Usiminas, porque os bancos detinham participação em ações sem direito a voto, e da Cosipa, porque 40% de seu controle estava nas mãos da Usiminas. Optou pela CST.
Sinergia
Interessava na CST o fato de ela ter se preparado para ser exportadora, permitindo uma posição mais equilibrada. Acesita e Villares vendem 80% de sua produção no mercado interno, a CST, 95% de sua produção no mercado externo.
O complexo Acesita ficaria com a planta de Timóteo, especializada em aços planos especiais, a Villares, com não-planos especiais, e a CST, com o carbono e aço comum.
Com sua entrada no páreo, a Vale e os sócios japoneses resolveram ampliar seus investimentos na CST, visando preservar o controle.
No final do processo, a Kawasaki aumentou de 11% para 25% sua participação no capital votante da CST; a Vale passou de 21% para 25% e a Acesita ficou com 25% do capital votante.
Queda de cotação
No ano passado houve um primeiro semestre muito ruim, com a queda dos preços do inox e a crise do setor de autopeças.
A Acesita teve US$ 29 milhões de prejuízo. No terceiro trimestre o prejuízo acumulado reduziu-se para US$ 13 milhões e no fechamento do ano, o balanço deverá estar equilibrado. Tudo isso independentemente dos investimentos na CST.
Esta teria sido a razão básica -supõe ele- da queda das cotações da companhia, de R$ 8,00 em 1995 para R$ 2,10 em 1996.
Em 1997, as perspectivas melhoram, diz ele, devido ao fato do grosso do investimento ter sido realizado.
A compra da CST não implicou fragilização financeira da Acesita, diz Brummer. US$ 163 milhões foram de aumento de capital subscrito; US$ 300 milhões de debêntures conversíveis em ações (que provavelmente serão convertidas, porque fixadas em R$ 3,50, contra cotação atual de R$ 3,00) e US$ 150 milhões de um eurobônus de oito anos, que foi subscrito entre junho e agosto.
Do mesmo modo, Brummer nega que tenha pagado sobrepreço pelo controle da CST. Para fixar o preço, solicitou da Nomura Securities (corretora contratada) taxa de retorno da ordem de 15% ao ano.
Ele tem certeza de que os próximos anos serão bastante favoráveis à sua companhia.

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