São Paulo, quinta-feira, 30 de janeiro de 1997
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O CUSTO BRASIL

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA REPORTAGEM LOCAL

Se tivesse sido feito nos EUA, o filme "O Que É Isso, Companheiro?" teria custado a metade, segundo afirmou seu produtor, Luiz Carlos Barreto.
"Saiu por R$ 4,5 milhões, poderia ter sido feito por R$ 2 milhões ou R$ 2,5 milhões", diz Barreto.
A listagem do produtor do que é mais caro ou pior na produção de um filme no Brasil é infindável.
Vai de custo e qualidade de mão-de-obra técnica até aluguel de câmeras e equipamento, estúdio de som, aluguéis de carros e locação, edição, mixagem, compra de direitos musicais e sonorização.
Ele cita o aluguel por uma semana de duas câmeras que, no Brasil, ficariam por US$ 7.000. Nos EUA sairiam por US$ 2.500.
"Aqui no Brasil há muita avidez. Querem tirar o preço do equipamento em dois ou três filmes", reclama.
"Isso ainda é o resultado de uma cultura inflacionária", diz a produtora Lucy Barreto.
E não é só comparado aos EUA que os custos no Brasil são altos. Lucy conta que, ao procurar um diretor de fotografia para "O Quatrilho", os salários do mercado iam de R$ 2.500 a R$ 4.000 por semana.
"Na Argentina e no Chile, os salários eram de R$ 1.500 por semana e a qualidade era igual", diz Lucy, que contratou o argentino Félix Monti.
"A indústria tem que ser redefinida. Nos quatro anos que ficou sem produzir, o que passou a valer foi a publicidade e a TV, que são pagos antecipadamente", afirma Lucy.
Literatura
No setor editorial, os problemas são diferentes. O presidente da Câmara Brasileira do Livro, Altair Brasil, informa que a tonelada de papel é vendida a US$ 740 no exterior. Enquanto a mesma tonelada custa US$ 1.100 no Brasil.
"Além disso, a maioria dos livros lá fora é mais leve. A gramatura fica entre 54 e 63 gramas. Os nossos são impressos com 80. As gráficas antigas podiam imprimir até 96 páginas por vez. As atuais só rodam 32 páginas", afirma.
Brasil reclama também da taxa de juros, que não representa um problema apenas para o setor cultural. "Com os juros atuais é melhor aplicar do que produzir", diz.
Pelo menos por aqui livro não paga imposto. "Livro não é taxado, mas os insumos são", diz o presidente da CBL, que reconhece que mesmo assim o livro é caro.
O editor Luiz Schwarcz, da Companhia das Letras, concorda que o livro no Brasil é caro, principalmente em comparação aos EUA. Mas ele tem alguns argumentos que justificam essa diferença.
Schwarcz lembra que, nos EUA, a editora desenvolveu outras formas de ganhar dinheiro além da venda de um livro.
Segundo ele, o editor é agente na venda de direitos para audiolivro, clube do livro, editoras de livro de bolso (pocket) e, às vezes, de capa mole (paperback).
"E lá eles vendem trechos para revistas de publicações antecipadas. O que não ocorre aqui", diz.
Isso sem contar um mercado maior que permite edições maiores e custos menores. No Brasil, uma edição sai com 3.000 exemplares. E antes de serem vendidos 2.200 exemplares só há prejuízo.
"Não há dúvida que o livro no Brasil é mais caro do que nos EUA, mas qualquer produto lá é mais barato", compara Schwarcz.
Na música, os problemas são de produção. A hora de estúdio no Brasil, por exemplo, é, no mínimo, 40% mais cara do que nos EUA. Além disso, parte fabril é de 15% a 20% mais cara. Não é tudo.
"O músico americano é mais caro por hora. Mas grava mais rápido que o brasileiro e acaba saindo mais em conta", diz um executivo do setor.

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