São Paulo, quinta-feira, 30 de janeiro de 1997 |
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Intelectuais e políticos falam de Callado
MÁRIO MOREIRA; WILSON TOSTA
Callado foi enterrado ontem de manhã no panteão da ABL (Academia Brasileira de Letras), no cemitério de São João Batista, em Botafogo (zona sul do Rio). Segundo a presidente da ABL, Nélida Piñon, política e estética -preocupações constantes do escritor, segundo amigos que estiveram no velório, no Salão dos Poetas Românticos da Academia- são resumidos na obra de Callado pelos romances "Quarup" (67) e "'Reflexos do Baile" (76). "A obra de Callado com mais eficácia narrativa, com mais sentido épico, em que mais está presente a nacionalidade, a brasilidade, é 'Quarup', mas 'Reflexos do Baile' é um livro extremamente cuidadoso com a palavra", disse. O poeta Ferreira Gullar disse ser impossível dissociar o político do estético na obra do escritor. "A coisa mais característica da personalidade de Callado é a mistura do radical com o fleumático, do estilista com o crítico duro das injustiças", afirmou Gullar. O jornalista e escritor Eric Nepomuceno, que esteve com Callado antes do último Natal, contou que, mesmo muito doente, o amigo se indignava mais com "a dificuldade que o Brasil tem para acontecer" como nação do que com o câncer, que enfrentava desde 84. "A atitude dele em relação à doença era de serenidade", afirmou Nepomuceno. Para Leonel Brizola, ex-governador do Rio, Callado (que tinha o apelido de "doce radical") "não era tão doce". "Ele se mostrava duramente indignado com o que está acontecendo no nosso país." O presidente da Associação Brasileira de Imprensa, acadêmico Barbosa Lima Sobrinho, 100, lembrou as posturas nacionalistas do escritor. O cortejo fúnebre saiu da sede da ABL às 10h05, chegando ao cemitério às 10h26. Cinco minutos depois, o caixão começou a ser conduzido para o panteão da ABL pela viúva, Ana Arruda, os filhos, Tessy e Paulo, e muitos amigos e parentes. Às 10h40, o corpo foi enterrado (no túmulo nº 20 do panteão). O governador Marcello Alencar, que foi ao cemitério, decretou três dias de luto oficial no Estado. O prefeito Luiz Paulo Conde também decretou luto de três dias. Estiveram presentes, ainda, os escritores João Ubaldo Ribeiro e Antônio Torres, os cartunistas Ziraldo e Jaguar, o poeta Geraldo Carneiro, o arquiteto Oscar Niemeyer, os atores Carlos Gregório e Tony Tornado, Lily de Carvalho Marinho, mulher do jornalista e acadêmico Roberto Marinho, e o artista plástico Carlos Scliar. (MÁRIO MOREIRA e WILSON TOSTA) Texto Anterior: Cláudia Liz conversa on line hoje Próximo Texto: REPERCUSSÃO Índice |
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