São Paulo, sexta-feira, 31 de janeiro de 1997 |
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Garota de 4 anos carrega "Ponette"
MARIANE MORISAWA
A personagem-título é uma menina de quatro anos (Victoire Thivisol) que perde a mãe (Marie Trintignant) em um acidente de carro. O pai (Xavier Beauvois) tem de deixá-la com a tia para poder trabalhar. E Ponette perde, de certa maneira, também seu pai. Morando com os primos, a menina enfrenta a crueldade infantil. Isso só serve para entristecer ainda mais a garota. Ponette recusa-se a ser alegre e vive de esperar pela volta da mãe. Constrói uma fantasia que se transforma em sua realidade, na qual a mãe às vezes vem visitá-la e brincar. Fica perdida entre explicações e esperanças que adultos e crianças lhe dão. O pai não acredita na vida após a morte; a tia lhe diz que a mãe ressuscitará; a amiga faz com que ela passe por "provas" para poder virar uma "menina de Deus" e pedir que sua mãe volte. Como em "O Balão Branco", a história é centrada na menina, que sofre e luta contra a falta de compreensão dos adultos. Só que no filme iraniano havia uma historinha para contar. Aqui, não. Assim, Victoire vira tudo o que "Ponette" é. A menina, que venceu o prêmio de melhor atriz no Festival de Veneza, mostra-se realmente um prodígio. Mas é preciso perguntar: pode uma criança tão pequena atuar? Indagado sobre o assunto, o diretor Jacques Doillon disse, em entrevista à Folha: "Não podemos dizer se é interpretação ou não, seria simplificar demais. A questão é saber se uma criança pode encontrar prazer em fingir". O filme -por todas as dificuldades de contar com tantas crianças no elenco- tem cortes abruptos e falas engasgadas. E, por isso, se aproxima do universo infantil, mostrando-se verdadeiro, com uma câmera que apenas parece documentar a verdade, a ponto de colocar em dúvida se as crianças estão fingindo. Quando Ponette -ou será Victoire?- chora, tão sinceramente, enternece o espectador. Mérito do diretor ou talento nato? Filme: Ponette - A Espera de um Anjo Produção: França, 1996 Direção: Jacques Doillon Com: Victoire Thivisol, Xavier Beauvois Cinema: Vitrine Texto Anterior: Explicações atrapalham 'A Sombra e a Escuridão' Próximo Texto: Santana mostra seu 'blues cabeça chata' Índice |
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