São Paulo, sexta-feira, 3 de outubro de 1997
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Reinvenção de si próprio é constante

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Os superlativos usados para descrever a importância de Bob Dylan parecem não ter limites nestes dias apologéticos: Einstein da música, encarnação da contracultura, Fellini do rock, compositor do século são alguns dos apostos utilizados por revistas e jornais nos EUA.
Nem sempre foi assim. Em 1963, "Time" dizia que a voz de Dylan "parece escapar das paredes de um sanatório de tuberculosos". Em 1970, seu disco "Self Portrait" foi destroçado pela crítica. Em 1979, "Slow Train Coming", que marcava sua conversão do judaísmo para o cristianismo evangélico (revertida poucos anos depois), foi considerado o fim da linha.
Mas a constante reinvenção de si próprio é a marca mais distinta dos 35 anos de existência desse personagem (em 1959, o estudante universitário e aspirante a músico Robert Zimmerman mudou o sobrenome para Dillon, em homenagem ao herói do faroeste Matt Dillon, e, em 62, para Dylan, em honra do poeta Dylan Thomas).
Ele começou como redescobridor do folclore, passou para cantor de protesto, inspirou o iconoclastismo, teve momentos líricos, viveu a fase erótica, fez hinos de louvor a Cristo e muito mais.
Há algumas linhas condutoras de seu trabalho que, no entanto, permaneceram estáveis. Como seus versos enigmáticos mas carregados de substância, evidente produto de uma intensa experiência existencial. Ou o tom anasalado de sua voz, que parece indicar ao ouvinte que o seu som não é produzido no peito mas na cabeça.
Sua importância para a história do rock é indiscutível. Apesar de nunca ter sido artista de multidões, Dylan influenciou de maneira decisiva muitos deles, como os Beatles. John Lennon creditava em grande parte a Dylan a complexidade musical e poética que o grupo adquiriu após 1965.
James Taylor, Paul Simon, Neil Young, Joni Mitchell, sem falar em Joan Baez, são produtos de Dylan. A influência de Dylan chega até os músicos de hoje, apesar do solene desprezo com que ele os trata ("tudo o que eu ouço no rádio hoje é muito fraco; os grandes astros de hoje, você nem vai lembrar dos seus nomes daqui a dois anos"), no trabalho de artistas como Jewel e Beck, sem falar de grupo Wallflowers, de seu filho Jakob.
(CELS)

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