São Paulo, domingo, 5 de outubro de 1997
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Empresas quebram no Nordeste mesmo sem recolher impostos

LUÍS COSTA PINTO
DO ENVIADO ESPECIAL A RECIFE

São 12h da sexta-feira, 26 de setembro e toca inutilmente a sirene da Elekeiroz do Nordeste, uma indústria alcoolquímica pertencente ao Grupo Itaú e situada às margens da BR-101 no município de Igarassu (PE), entre Recife (PE) e João Pessoa (PB). Desde abril passado não sai fumaça das chaminés da Elekeiroz.
Apenas seis funcionários perambulam diariamente pela fábrica, zelando pelo seu patrimônio. A indústria, montada na década de 60 com os incentivos fiscais da Sudene, vai a leilão na próxima quarta-feira em São Paulo. É disputada por donos de ferros-velhos. Vai virar sucata.
A saga da alcoolquímica do Grupo Itaú é só um exemplo do que já aconteceu com duas centenas de empresas cujos prazos de isenções tributárias concedidas pelo Finor expiraram. Se alguém quisesse montar uma unidade igual à Elekeiroz Nordeste, hoje, gastaria cerca de R$ 70 milhões em máquinas e obras estruturais.
O lote da alcoolquímica que será leiloado esta semana, inclusive o terreno onde a fábrica está instalada, com pontos de água, energia e gás, vale apenas R$ 5 milhões.
"Acho que não vamos arrecadar nem metade do que queremos. Se aparecer um grupo açucareiro da região, que produza álcool e queira ficar com nossas máquinas por 70% do valor orçado pelo lote, entregamos", diz o engenheiro Reinaldo Rubi, encarregado de administrar o desmonte da Elekeiroz Nordeste.
A fábrica padeceu por três males: o fim dos incentivos, a ascensão da petroquímica e o fim da fabricação de álcool puro pelas destilarias nordestinas em função do uso do álcool como combustível de automóveis. Isso teria levado a uma enorme produção de álcool impuro, impróprio para o uso na alcoolquímica.
Na mesma BR-101 que corta Pernambuco de cima a baixo, mas agora entre Recife e Maceió (AL), encontra-se a fábrica de carrocerias de ônibus da Caio Norte. No ano passado a empresa desativou a unidade de produção de novas carrocerias. Manteve apenas a oficina e a área comercial.
Uma refinaria de açúcar, uma fábrica de gases industriais, uma unidade de produção de autopeças e uma fábrica de móveis de aço que já foi a maior da região são vizinhas da Caio Norte e a acompanharam no ocaso. Estão todas fechadas. A unidade de autopeças mudou de dono e de nome.
"Maternidades"
"Não vou comentar os casos de indústrias fechadas em Pernambuco. Não falo de cemitérios, prefiro analisar as maternidades. Perdemos muita coisa, mas muitos investimentos novos estão se dirigindo para cá", diz o secretário pernambucano de Indústria e Comércio, Sérgio Guerra.
Esse é o melhor dos 35 anos de vida do Finor. O fundo dispõe de um orçamento de R$ 500 milhões para auxiliar empresas que desejam se instalar em solo nordestino, além do auxílio fiscal que concede.
São quatro as maneiras de um empresário obter benefícios por meio do fundo administrado pela Sudene: isenção do IRPJ por dez anos, prorrogável por mais cinco; após isso, ou caso não a tenha conseguido, tem-se redução de 50% do IRPJ a pagar até o ano 2010.
O sistema também concede isenção para quem deseja reinvestir o lucro da sua fábrica ou de seu negócio na unidade nordestina e pode isentar de Imposto sobre Operações de Crédito (IOC) quem vai para o Nordeste mediante um empréstimo bancário. Sem esses impostos, o custo financeiro do empreendimento cai cerca de 30%.
"É injusto bater no Finor e na Sudene. Qualquer país tem programas especiais para industrializar suas regiões pobres. Há 137 anos os EUA concedem isenção para quem monta fábricas no vale do rio Tenessee. Só estamos há 35 anos no Nordeste", diz o general Nílton Rodrigues, superintendente da Sudene.

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