São Paulo, domingo, 19 de outubro de 1997
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Músicas do MST incentivam a violência

LUIS HENRIQUE AMARAL
DA REPORTAGEM LOCAL

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) pretende lançar em janeiro de 98 o primeiro CD com os maiores sucessos cantados nos acampamentos e marchas da entidade. Algumas das letras do grupo, obtidas pela Folha, incentivam a violência.
Para evitar polêmica, pelo menos uma das letras que vai para o CD foi modificada. Na música "Descobrimos lá na Base", uma das mais cantadas no MST, trocaram "Se for dura essa parada, a gente pega nas armas" por "a gente pega na marra".
A violência está ainda na música "Terra-mãe": "Para acompanhar de onde vem o filho, fazendo o destino, com as armas e um hino".
Também em "O risco": "Aquele que manda matar também pode morrer". No final, a música afirma: "É a nossa proposta, pois a gente quer ganhar. Se matarem um daqui, dez de lá vamos (...)". A letra, publicada em um livro do MST, não está completa. Mas a palavra "matar" rima com "ganhar" e daria sentido à frase.
A beligerância ainda aparece em "Construindo o Caminho". O final da letra afirma: "Quem sempre nos roubou tudo, e a paz nunca nos dera, sai logo deste trono ou sua vida aqui se encerra".
A reforma agrária, obviamente, é o tema central das músicas. Mas a defesa do socialismo e a combalida "união operário-camponesa" também aparecem nas canções.
O hino dos sem-terra, cujo refrão é sempre cantado com os braços erguidos, diz que "forjaremos desta luta com certeza pátria livre operário-camponesa". Essa união é o símbolo do comunismo, representada pela foice e pelo martelo.
O símbolo também aparece em "Só Sai Reforma Agrária": "Só, só sai, só sai reforma agrária. Com a aliança camponesa e operária".
O jargão marxista também aparece na maioria das letras. Em "A Voz da Maioria", por exemplo: "É o povo explorado, pela tal da burguesia. São donos do capital, que juntou a mais valia".
Segundo o compositor Zé Pinto, autor da maior parte das letras do MST, elas não incentivam a violência. "Quando falamos em armas, estamos nos referindo aos nossos instrumentos de trabalho, a enxada e o facão", diz.
Quanto à troca de "nas armas" por "na marra", diz que "houve uma confusão" na impressão do livro. "O objetivo das músicas é animação e conscientização."
Para ele, o MST tenta "ensinar o povo a só ouvir música boa". "Músicas alienadas e preconceituosas, como do Tiririca e a da boquinha da garrafa, só destroem." Como exemplo de boa música, cita Gonzaguinha e Chico Buarque.

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