São Paulo, domingo, 19 de outubro de 1997
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PR limita fronteira

FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

Quem entra no centro de treinamento do Atlético-PR, no bairro de Umbará, em Curitiba, imagina que o local é uma usina de craques.
Numa área de 246 mil metros quadrados, o clube instalou há quatro meses um dos mais completos complexos para preparação de jogadores do país. Tem cinco campos oficiais, 32 quartos, piscina e sala de musculação.
A realidade, porém, derruba a impressão inicial.
Apenas 1 dos 33 profissionais que disputam o Brasileiro pelo time foi formado pelas divisões de base. O grupo, misto de jogadores de 13 lugares diferentes, tem seis paranaenses -só um curitibano.
"Buscamos atletas fora porque não tínhamos base. Nossa política mudou só há dois anos, mas já começa a dar resultado", diz o presidente em exercício do clube, Ademir Adur, aludindo ao período que sua diretoria comanda o clube.
O Atlético, que jamais havia conquistado um título estadual de juniores, foi campeão este ano.
Se o título atesta que a política já faz efeito, a mudança de mentalidade não é tão clara.
"Você bota um menino desses em campo e, se ele erra, é chamado de doente e burro pela torcida", afirma Odivonzir Frega, superintendente do Atlético.
O técnico Abel Braga lamenta a demora no trabalho. "O clube precisa valorizar mais a prata da casa. Pelo que se faz nos últimos dois anos, já era para estar rendendo frutos", diz Braga, que tem sua versão para a diversificação do grupo. "Isso aqui é um circuito livre de empresários."
Um deles, Juan Figger, intermediou as três negociações mais exóticas do Atlético nos últimos tempos: o zagueiro bósnio Sanin Pintul e os meias poloneses Piekarski e Nowak, este que ainda permanece no time. "São baratos", justifica.
Os dois outros "grandes" clubes do Estado, Coritiba e Paraná Clube, seguem a política do "formar vale mais que comprar".
O Coritiba começou a construir o seu CT, e o Paraná, em oito anos de existência, já é o maior revelador de talentos do Estado.
No atual grupo de profissionais, há 8 paranaenses e 13 "pratas da casa" (incluindo 7 que não atuaram no Brasileiro).
Além da pouca tradição em formar jogadores, o Estado tem uma capital que produz escassa mão-de-obra para o futebol nacional. Entre as grandes cidades, Curitiba é a que tem menos atletas no Brasileiro -dez.
"A cidade foi colonizada por poloneses, alemães e italianos, todos 'cintura-dura"', diz Ernani Buchmann, presidente do Paraná.
Além disso, muitos jovens que pensam em ser jogador profissional encontram espaço na forte liga de futebol amador da capital.
Os jogos são transmitidos nas rádios, e emissoras de TV paga brigam para exibição das finais.
Depois de uma experiência frustrada nos juniores do Atlético-PR, o zagueiro Eliezer, 20, joga hoje no time da Vila Hauer. Tem a faculdade paga pelo clube e recebe cerca de R$ 300 mensais de ajuda.

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