São Paulo, domingo, 19 de outubro de 1997
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Médicos relacionam cardiopatia à bactéria

NOELLY RUSSO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil é um dos países convidados a participar de um grande estudo para tentar confirmar a existência de um novo vilão, que estaria relacionado a problemas cardíacos. É uma bactéria, a Chlamydia pneumoniae.
Essa é uma das mais modernas hipóteses na área cardiológica. Em tese, ela admitiria que infartos estariam indiretamente ligados a uma infecção bacteriana (veja quadro ao lado e texto abaixo).
Esse tipo de clamídia é uma bactéria que pode se instalar no corpo humano pelas vias respiratórias. Ela nada tem a ver com a clamídia sexualmente transmissível, a mesma que provoca tracoma (uma doença que já foi comum no Brasil e provocava, entre outros problemas, a fotofobia).
Já existem alguns estudos internacionais que apontam que o uso de antibióticos, medicamentos que "matam" a bactéria, reduzem o risco de pessoas com angina ou que já tiveram um infarto de repetir a experiência.
O principal desses estudos é o Roxis, realizado com 202 pessoas na Argentina -102 dos pacientes escolhidos para o estudo tomaram antibiótico, 100 receberam placebo (substância inócua usada para o controle em experimentos).
Os tratados, tomaram antibióticos por 30 dias e foram acompanhados por 180.
No grupo que recebeu placebo, houve 5% de reaparecimento de angina, 2% de infarto do miocárdio e 2% de morte por problemas cardíacos.
A diferença foi grande entre esse grupo e o que usou antibióticos para o combate da clamídia. Houve 1% de nova angina, 0% de infarto e 0% de morte.
"Esse foi um estudo publicado na revista britânica 'The Lancet'. Mas corre o risco de estar expondo casualidades, já que o número de pacientes estudados foi pequeno", diz Bruno Caramelli, 37, cardiologista do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP) e diretor da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo.
Segundo ele, o estudo para qual ele foi convidado só deve começar no próximo ano.
"Ainda não existe um acordo formal, mas o estudo é interessante e ainda estamos conversando", diz Caramelli.
A nova pesquisa seria o Roxis 2 e incluiria, pelo menos, um número que deve chegar a milhares de pessoas, nos moldes dos grandes estudos atuais, em diferentes centros em vários países.
"A contaminação pela clamídia é muito comum. Muitas pessoas já tiveram e nem sabem. O problema é quando ela se instala no pulmão e eventualmente no coração."

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