São Paulo, domingo, 19 de outubro de 1997
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Poços abastecem metade das cidades de SP

MARCOS PIVETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Levantamento inédito feito pela Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) concluiu que quase metade dos municípios do Estado de São Paulo -308 cidades, 47,7% do total- são totalmente abastecidos por água subterrânea.
Em outras 154 cidades (23,9% do total), o abastecimento público usa fontes mistas, uma parte da água vem de fontes superficiais e outra, de aquíferos subterrâneos.
Segundo o estudo, 5,5 milhões de habitantes -um sexto da população do Estado- têm suas casas abastecidas somente com água de origem subterrânea.
"Nessas regiões, há grande uso desse recurso natural porque há muita disponibilidade de água subterrânea de boa qualidade e o custo de sua exploração é baixo", disse Dorothy Carmen Pinatti Casarini, bióloga da Cetesb, uma das autoras do estudo.
Em metade das cidades que usam água subterrânea, a captação e distribuição desse recurso são feitas pela Sabesp (Saneamento Básico do Estado de São Paulo).
Na outra metade, a água subterrânea é explorada por companhias municipais de saneamento.
Segundo Dorothy, o custo de produção de água potável a partir de fontes subterrâneas pode ser até dez vezes menor do que o da obtida de fontes superficiais.
"O tratamento de água subterrânea é mais simples. Às vezes, basta só clorar a água retirada do poço para torná-la apta para uso doméstico", disse Dorothy.
Na Grande São Paulo e cidades do litoral, praticamente não existe uso de água subterrânea para abastecimento domiciliar.
Isso se explica, em parte, pela menor ocorrência de aquíferos com grande capacidade de vazão na região metropolitana da capital.
O aquífero Cristalino, que passa sob a região sul do Estado, inclusive a capital, tem uma capacidade de vazão até 120 vezes menor do que a do aquífero Botucatu, o principal do Estado, que cruza o centro do interior.
Embora a disponibilidade desse recurso seja menor na região metropolitana que no interior, Dorothy defende uma maior exploração da água subterrânea também na Grande São Paulo.
"Muitas indústrias já utilizam a água subterrânea na capital paulista, mas não há exploração para consumo doméstico", afirmou a bióloga.
Para o geólogo Aldo Rebouças, do Instituto de Estudos Avançados da USP, um outro fator inibe os investimentos em poços artesianos -os governos e população "valorizam as soluções mais caras e fotogênicas", as grandes obras para captação, tratamento e distribuição de água.
"É uma questão político-cultural", diz Rebouças.
Segundo Paulo Galletta, diretor econômico-financeiro e de relações com o mercado da Sabesp, não há exploração de água subterrânea para uso residencial na Grande São Paulo por razões estritamente técnicas.
"A água subterrânea também é finita e na região metropolitana não há capacidade de vazão que permita sua exploração para uso residencial", disse Galletta.
Para Dorothy, o potencial de exploração dos aquíferos subterrâneos em São Paulo é praticamente infinito.
"O índice de pluviosidade aqui é alto e poderíamos explorar mais a água subterrânea, até para diminuir o valor da tarifa de água", afirmou a bióloga.

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