São Paulo, domingo, 19 de outubro de 1997
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Inflação zero

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

A inflação dos últimos meses tem sido bastante baixa e isso é certamente positivo. Após décadas de inflação alta, parece que quanto mais baixa a inflação melhor, porque se evita o imposto inflacionário que corrói o valor da moeda. Se possível, a meta deveria ser a de ter inflação zero.
No entanto, nem tudo é tão simples e uma meta de inflação zero pode ter mais custos do que benefícios. Ter um pouco de inflação pode ser melhor porque uma inflação extremamente reduzida ou zero só se mantém à custa de uma taxa de desemprego alta.
Keynes, por exemplo, sugeriu que um pouco de inflação ajuda a economia a ficar mais flexível porque permite que alguns preços subam e outros desçam, ajustando os preços relativos às necessidades do mercado com maior facilidade. No caso do mercado de trabalho, um pouco de inflação permite a redução de salários reais com menor atrito. Quando a inflação é zero, isso só é possível por meio da redução do salário nominal, algo que, via de regra, não é bem aceito.
Há os que defendam uma inflação mínima, como alguns bancos centrais. Taxas anuais de inflação acima de 2% seriam inaceitáveis. Para atingir essa meta, não hesitam em sacrificar o crescimento, aumentando a taxa de juros.
Contrários à tese da inflação zero, George Ackerlof e William Dickens, por exemplo, publicaram um estudo ("Brookings Papers", 1, 1996) em que estimaram que manter a inflação em zero em vez de 3% faz aumentar a taxa de desemprego no longo prazo em 2,6 pontos percentuais. Outros estudos têm se contraposto a essa visão e reafirmado a tese de que inflação acima de 2% ao ano não traz benefício.
Essa é uma discussão que voltou a ganhar importância nos países industrializados. Na Europa, por exemplo, ela caminha paralelo às discussões da adoção da nova moeda, o euro. Isso porque a meta estreita para o déficit fiscal está contribuindo para o cenário atual de baixo crescimento e inflação também baixa.
No Brasil nosso dilema ainda não é esse. Por aqui o desafio é consolidar a meta de inflação baixa, mas com o crescimento um pouco mais vigoroso. Qual a taxa de inflação que acompanhará um crescimento maior, não se sabe nem é possível saber com exatidão; mas certamente será maior que zero.

Álvaro A. Zini Jr., 44, é professor titular da Faculdade de Economia e Administração da USP.

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