São Paulo, domingo, 19 de outubro de 1997
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Empresa precisa cortar custos e aumentar a escala de produção

LUIZ CINTRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Além dos problemas de estrutura societária e da necessidade de renegociar suas dívidas, a Jari tem de resolver ao menos três pontos para ser viável: reduzir os custos, aumentar a escala de produção e encontrar uma fonte de energia mais econômica que a atual.
Entre os meses de janeiro e maio deste ano, antes do acidente interromper as atividades da Jari, a empresa estava produzindo celulose a um custo de US$ 390 por tonelada.
Ainda que esse valor seja 15% menor que o custo médio do ano anterior, ele está bem acima dos custos de uma Aracruz, por exemplo, que, em março, estava em US$ 279 por tonelada.
É verdade que a Aracruz é uma empresa altamente competitiva, inclusive em termos internacionais. Mas a Jari perde também para a média do custo de produção da celulose em toda a América Latina, que é de US$ 355.
Além dos custos, a Jari Celulose terá de aumentar sua capacidade de produção para ter ganhos de escala. Isso porque a empresa produz atualmente cerca de 300 mil toneladas por ano ou 24 mil toneladas mensais.
Juliana Chu, analista de investimentos do Unibanco, diz que uma empresa do setor precisa produzir algo em torno de 500 mil toneladas/ano para ser competitiva.
A redução dos custos de produção é um dos principais problemas que estão sendo enfrentados.
Para piorar a situação, os preços internacionais da celulose despencaram no ano passado e no início deste: de US$ 800 a tonelada para os US$ 400 em março. (Desde abril, os preços se recuperaram e hoje a tonelada está a US$ 600 aproximadamente, mas a recuperação coincidiu com a paralisação das atividades da Jari.)
Com o aumento da produção de eucalipto, a empresa pôde deixar de comprar madeira de terceiros.
Esses expedientes já estão dando algum resultado. De 95 para cá, o custo caiu 25%.
"Com a redução do custo estamos conseguindo provar que a Jari é viável", considera Britaldo Soares, diretor-presidente da Jari.
Com relação à fonte de energia, a solução do problema é algo bem mais complicado.
Isso porque a empresa usa atualmente óleo combustível, o que encarece a produção.
A solução seria a construção de uma hidrelétrica, que aproveitaria os recursos hídricos da região onde fica a empresa.
Desde 1974, ainda no tempo em que a empresa pertencia a Daniel Ludwig, a Jari solicita ao governo federal a construção da hidrelétrica, que serviria também para atender a população da região.
Atualmente, a Jari Celulose distribui energia para a população de Monte Dourado e não cobra por isso. Essa situação não deve continuar por muito tempo, já que recentemente a Jari conseguiu autorização do Ministério de Minas e Energia para cobrar pelo fornecimento, o que será feito assim que a Jari tiver dinheiro para bancar a instalação dos medidores de consumo nas residências.
Nesse ponto, o BNDES e os atuais controladores concordam: o problema da energia terá de ser resolvido. E mais uma vez o problema é de caixa, já que a hidrelétrica deve custar cerca de US$ 100 milhões e quatro anos de trabalho para ficar pronta.
(LzC)

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