São Paulo, domingo, 19 de outubro de 1997
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Ludwig quis construir celeiro mundial de alimento e celulose

DA REPORTAGEM LOCAL

O Projeto Jari teve início em 1967 como o sonho de um dos homens mais ricos do mundo naquela ocasião, o empresário norte-americano Daniel K. Ludwig, que possuía patrimônio de US$ 5 bilhões, equivalente hoje a US$ 25 bilhões.
Ludwig conseguiu encontrar na divisa entre o Estado do Pará e o então território do Amapá o local que considerou ideal para os seus propósitos: uma área de 1,6 milhão de hectares, com uma excelente bacia hidrográfica da qual o principal rio, o Jari, é a fronteira natural entre o Pará e o Amapá.
Além das condições climáticas favoráveis, a área oferecia ainda a vantagem de pertencer a um único proprietário, a Empresa de Comércio e Navegação Jari Ltda.
Como o Jari é um dos afluentes do Amazonas, a região oferecia fácil escoamento da produção, rumo aos mercados que Ludwig tinha em mente, os EUA e a Europa.
Ali o empresário queria produzir celulose e arroz, com o objetivo de antecipar-se ao que ele imaginava que seria o grande problema do mundo na virada do século: a falta de celulose para a produção de papel e a escassez de alimentos.
No período de 1967 a 1969, foram feitos os trabalhos de levantamento geográfico e hidrográfico da área. Passada essa fase, logo o sonho de Ludwig viraria pesadelo.
Os tratores que estavam sendo usados no trabalho de desmatamento tiravam as raízes e o húmus, tornando o solo inadequado para o cultivo. A saída foi passar a fazer a derrubada da mata original usando moto-serras, muito mais demorado e custoso.
Logo enfrentaria um segundo problema: a melina, espécie escolhida para ser plantada, não se adaptou ao clima tropical.
A saída foi a gradual substituição dessa espécie pelo pinus e mais tarde pelo eucalipto, que possui menor ciclo de corte.
A escolha errada custou mais dinheiro e novos atrasos.
O empresário norte-americano logo enfrentaria um outro problema: as terras que havia comprado não estavam devidamente regularizadas e seu direito sobre elas passou a ser questionado.
No final dos anos 70, quando a unidade industrial e a usina termoelétrica chegaram, importadas do Japão, Ludwig começou a mostrar desinteresse pelo negócio.
A principal razão era que o projeto já não contava com o apoio do governo federal. Ao contrário, crescia a oposição ao Projeto Jari, que era visto por setores nacionalistas do Exército e também da sociedade civil como um encrave estrangeiro no país.
Nos anos de 1979 e 80, Ludwig deixou de investir no projeto.
Em 1982, o economista e deputado federal Antônio Delfim Netto (PPB-SP), então ministro do Planejamento e homem forte do governo do general João Baptista Figueiredo, arquitetou uma saída para o desinteresse de Ludwig e para a oposição ao projeto.
Delfim convocou um grupo de 23 empresários brasileiros de peso, capitaneados por Augusto Trajano de Azevedo Antunes, do grupo de mineração Caemi.
Mas não foi só o espírito patriótico que agregou esses empresários. Junto com a convocação, Delfim pôs o então BNDE por trás do empreendimento, garantindo os recursos necessários para a continuidade do Jari.

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