São Paulo, domingo, 19 de outubro de 1997
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Fumaça branca

JUCA KFOURI

Salta aos olhos que a posição dos grandes clubes brasileiros em relação ao projeto Pelé não pode ser igual à da CBF ou à de radicais como Eurico Miranda.
Os clubes não podem ser contra, por exemplo, que se abra a possibilidade da organização em ligas, velha reivindicação do Clube dos 13.
Gente decente também não pode ser contra a fiscalização do Ministério Público.
Quanto ao passe, é compreensível que haja uma reação conservadora, embora esteja clara a inconstitucionalidade de sua existência.
Mas a multa rescisória nos contratos deveria ser garantia suficiente para que ninguém temesse o fim do passe, a não ser aqueles que perderiam suas comissões em transações não transparentes.
Porque, é claro, a partir do momento em que exista uma cláusula determinando o valor da multa numa rescisão de contrato, esse valor será de conhecimento público, impossibilitando as negociações nas quais o valor alegado é um e o real é outro.
Aliás, a própria Fifa já cogita estabelecer que a partir da Copa-2002 só poderão estar as seleções de países em que o passe esteja extinto.
Finalmente, resta a questão do clube-empresa. A Constituição de 1988 impede que se dê aqui a mesma solução encontrada na Espanha, ou seja, a obrigatoriedade da transformação em empresa apenas dos clubes em dívida com a União -nossa Carta Magna não permite que o Estado obrigue alguém a fazer determinada coisa por dever aos cofres públicos.
Mas parece evidente que não resta outro caminho ao futebol que não o da profissionalização de sua gestão e, consequentemente, do clube-empresa, a exemplo do que ocorre no mundo inteiro com ótimos resultados.
Passado, portanto, o clamor inicial, há sinais de que os grandes clubes começam a se dar conta de que têm mais a ganhar e nada a perder com o projeto Pelé, razão pela qual o entendimento hoje está mais fácil do que ontem.
Para tanto, há de ter pesado o apoio que o projeto encontrou na imprensa e na opinião pública, algo que pode não influir decisivamente na comissão especial da Câmara, mas que, certamente, terá influência no plenário.
E, mesmo na comissão especial, tanto o seu presidente Germano Rigotto (PMDB-RS) como o relator Tony Gel (PFL-PE) têm dado demonstrações claras de endosso ao essencial do projeto.

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