São Paulo, domingo, 19 de outubro de 1997
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Comportamento originou bairros étnicos

LIA REGINA ABBUD
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Atingir a maioridade ou casar. Esses fatores, invariavelmente, fazem com que a maioria das pessoas pense em sair da casa dos pais.
Para alguns, a idéia de permanecer perto da família amedronta tanto que a solução é morar a quilômetros de distância.
Mas, contrariando tudo isso, existem os que optam por conviver em casas vizinhas, próximas ou mesmo em um único terreno.
É o caso das famílias Belinky, Coatti, Daidone e Gomes, todas da cidade de São Paulo, cujas histórias estão resumidas nesta página.
"Esse comportamento era muito comum nas décadas de 20 e 30, quando imigrantes tentavam formar colônias no Brasil."
A explicação é de Maria Irene Szmrecsanyi, 58, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (Universidade de São Paulo).
"Os laços não eram só familiares, mas entre amigos que eram chamados por quem estava aqui. É a tendência de procurar os iguais."
Foi esse comportamento que deu origem a bairros étnicos de São Paulo, como Bom Retiro, Bixiga e Liberdade, diz a professora.
Especialista em fundamentos sociais, ela diz que o brasileiro, pela sua história de colonização, preza muito a relação familiar.
Na avaliação dela, esses valores estão se perdendo devido ao alto custo das moradias. "As pessoas não encontram opções."
Classes sociais
José Luiz Tabith, 35, do Instituto de Arquitetos do Brasil e da Universidade Mackenzie, diz que o comportamento é consequência de questões circunstanciais.
"É uma saída camuflada de casa. Os filhos não têm estabilidade para se manter, e os pais têm uma propriedade para oferecer."
Os interesses dos envolvidos se encaixam, na opinião do professor. "E os pais podem manter os filhos sob sua proteção."
Ele aponta a mesma ocorrência em famílias de classes baixas, quando, geralmente, o pai constrói a casa principal e, no decorrer dos anos, modifica ou expande o espaço para construir anexos para os filhos e suas famílias.
A razão sociológica desse comportamento, na opinião do professor, é a mesma nas diversas classes sociais: um pai estável que instrumenta o início da vida dos filhos.

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