São Paulo, domingo, 19 de outubro de 1997 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Esculpindo moléculas
RICARDO ZORZETTO
Os pesquisadores dessa nova área pretendem desenvolver, por exemplo, robôs microscópicos, capazes de penetrar no corpo humano para combater agentes infecciosos e reparar artérias danificadas. As pessoas poderão viver por mais tempo se esses equipamentos, milhares de vezes menores que a espessura de um fio de cabelo, forem capazes de reparar qualquer parte do organismo, deixando-o em perfeito estado. Chips de computadores, muito mais potentes que os atuais, deverão ser tão pequenos que só poderão ser medidos em nanômetros -unidade de medida que corresponde à bilionésima parte do metro. Eles deverão armazenar grandes quantidades de informação nesse espaço e deverão ser mais rápidos, com os dados a percorrer distâncias microscópicas. Mas isso deverá ser apenas o início, pois as possibilidades da nanotecnologia são infinitas e seus avanços deverão ser enormes em todas as áreas do conhecimento, nas palavras de seu criador, o engenheiro Kim Eric Drexler, do Foresight Institute, de Palo Alto, na Califórnia (EUA), que começou a desenvolvê-la há cerca de 20 anos. Na semana passada, algumas das pesquisas relacionadas com essa nova tecnologia tiveram o reconhecimento maior que um trabalho científico pode ter: o Prêmio Nobel de Física. Por seu trabalho de desenvolvimento de métodos de resfriamento e aprisionamento de átomos com laser, o prêmio foi concedido a Steven Chu, da Universidade de Stanford, na Califórnia, William Phillips, do Instituto Nacional de Padronizações e Tecnologia, de Maryland, e o francês de origem argelina Claude Cohen-Tannoudji, do Colégio da França e da Escola Nacional Superior, de Paris. Diversos produtos poderão ser fabricados por equipamentos do tamanho de um forno de microondas. E tudo poderá custar muito pouco, porque a matéria-prima existe em abundância na natureza: os átomos. A nanotecnologia foi proposta em 1959 por um dos mais importantes cientistas deste século: o norte-americano Richard Feynman, um dos ganhadores do Prêmio Nobel de Física de 1965 e o principal descobridor da causa da explosão do ônibus espacial Challenger em 1986. A idéia central de Drexler é montar, a partir da manipulação de átomos e moléculas, pequenos robôs que seriam capazes de se replicar construindo outros. Esses nanorrobôs, e toda a nanomaquinaria por eles construída átomo por átomo, seriam capazes de fabricar desde um pedaço de carne a uma nave espacial. Tomando-se por base que toda a matéria é constituída por átomos, qualquer substância serviria de matéria-prima, inclusive, lixo. As idéias de Drexler de criar máquinas moleculares que se autoduplicam vêm da biologia molecular. Muitos de seus modelos funcionariam como o maquinário de uma célula. Essas máquinas seriam montadas por componentes similares em funcionamento ao DNA (material genético), que armazena informações para a produção de proteínas. O inventor controlaria essas máquinas, determinando as características dos materiais a serem produzidos. Os únicos limites serão os impostos pelas leis da física para o comportamento dos átomos. Texto Anterior: Concurso Cientista de Amanhã chega ao seu 40º ano Próximo Texto: Curral atômico Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |