São Paulo, domingo, 19 de outubro de 1997
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Raoul Ruiz rejeita público

ADRIANE GRAU
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM SAN FRANCISCO

Assim como a personagem de Catherine Deneuve em "Genealogia de um Crime", a ser apresentado hoje na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o diretor Raoul Ruiz, 55, em entrevista à Folha, se mostra indeciso nas escolhas mais simples.
Café ou cerveja? Português ou inglês? "Meio que falo espanhol, inglês, português e italiano", divaga ele. "Mas me sinto mais confortável falando francês."
A multiculturalidade do diretor, no entanto, transcende as línguas que ele fala e os países em que viveu. Fazendo filmes desde 1955, criou aos poucos um universo todo seu, onde realidade e fantasia convivem pacificamente.
Em "Três Vidas e uma Só Morte", por exemplo, ele colocou o amigo Marcello Mastroiani a conversar com fadas sem correr o risco de cair no ridículo.
*
Folha - Os atores parecem muito à vontade em seus filmes, incluindo o último papel feito por Mastroiani antes de morrer, em "Três Vidas e Uma Só Morte". Ele estava interpretando a si mesmo?
Raoul Ruiz - Estruturo o filme com os atores. Marcello veio em primeiro lugar. Quando aceitou fazer "Três Vidas e Uma Só Morte", inventei a história. Meus filmes não são "prêt-à-porter". Você tem a pessoa e aí sim faz a roupa.
Folha - O sr. está prestes a começar a filmar "Shattered Images", seu primeiro filme norte-americano, com William Baldwyn. Foi difícil tomar tal decisão?
Ruiz - O roteiro não é meu. É a maneira norte-americana de fazer filmes, é Hollywood.
Folha - O sr. se sente pressionado a tornar seu primeiro filme norte-americano lucrativo?
Ruiz - Não, pois é um filme pequeno e logo após começarei a fazer outro, que é muito maior.
Folha - É fácil trabalhar com Deneuve, sendo ela uma lenda viva?
Ruiz - Sim, é necessário apenas muita paciência para estender a programação. Ela é muito lerda e só sai do camarim pronta.
Folha - O sr. assiste seus filmes junto com o público?
Ruiz - Não gosto do público.
Folha - Como assim?
Ruiz - Sei que estou errado, mas há uma fobia. Assusta a idéia de que pagaram para ver meu filme em vez de ir tomar uma cerveja ou fazer algo mais interessante.

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