São Paulo, domingo, 19 de outubro de 1997 |
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Filme de Héctor Carré, uma comédia fracassada, lembra um vídeo caseiro
MARCELO REZENDE
Mas a situação, na mente do diretor Héctor Carré, não é para lágrimas, mas risos, pois estamos diante de uma estranha comédia sobre a pobreza, a força da mídia e as relações de poder em que, mais uma vez, a TV é uma grande vilã. O sonho desse -aparentemente trágico- personagem é virar um astro. Depois de adulto, e passar uma temporada na prisão, decide transformar o desejo em realidade. Aproveitando idéias de autores que conheceu no cativeiro (de certa forma o presídio foi para ele uma escola), como Michel Foucault e Umberto Eco, cria um "show" para ser notado. A idéia é simular sequestro e assassinato num abrigo dirigido por freiras. Essa, pensa, seria a única forma de atrair câmeras e críticos para seu "trabalho": uma peça. Há em "Dá-me" algo que lembra os surrados esquemas das antigas chanchadas. Coloca um homem de idéias tortas em confronto com o mundo "civilizado e normal" para revelar onde está o desequilíbrio e em que mente está refugiada a razão. Do atrito nasceria a graça. Do ridículo viria o riso. Héctor Carré parece não querer acrescentar nada ao esquema. Na verdade, quase o sufoca. Seu trabalho lembra mais um vídeo caseiro do que um filme. Os motivos são vários. O principal, um incômodo tom de improvisação, de descuido em nome da "originalidade" que evidencia uma estúpida falta de talento. Carré, por exigir de si mesmo uma "crítica", não assume a comédia. Parece estar sempre no meio do caminho, indeciso entre fazer rir ou despertar a consciência de seus espectadores. Seu filme não atrai, desperta ou mesmo incomoda. É apenas uma comédia fracassada. E um profundo e perturbador tédio. (MR) Texto Anterior: Raoul Ruiz rejeita público Próximo Texto: 'Entre Marx e uma Mulher Nua' não condiz com originalidade do roteiro Índice |
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