São Paulo, domingo, 19 de outubro de 1997
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Foguete brasileiro busca mercado

RICARDO BONALUME NETO
ENVIADO ESPECIAL A ALCÂNTARA

A qualquer momento entre 20 de outubro e 10 de novembro próximos, entre 9h00 e 11h00 locais, deverá ser lançado o primeiro foguete brasileiro com um satélite brasileiro a bordo, de uma base espacial brasileira no Maranhão.
O simbolismo do evento, aguardado faz mais de uma década, faz com que os técnicos do Centro de Lançamento de Alcântara estejam dobrando e redobrando cuidados nesta etapa final de testes da campanha de lançamento do VLS (Veículo Lançador de Satélites).
Mais do que simplesmente colocar em órbita o pequeno SCD-2A, o segundo satélite de fabricação nacional para coleta de dados meteorológicos, o primeiro vôo do VLS está sendo encarado como o primeiro passo importante para o país penetrar em um mercado emergente, que promete movimentar centenas de milhões de dólares nos próximos anos.
O VLS tem 19 metros de altura. Na decolagem, seu peso é de 50 toneladas -das quais 41 toneladas são combustível sólido. O foguete brasileiro permite colocar, em órbitas de 250 km a 1.000 km de altitude, satélites de até 350 kg de peso (o SCD-2A tem cerca de 115 kg e ficará em uma órbita de cerca de 700 km).
O lançador foi projetado pelo IAE (Instituto de Atividades Espaciais), do Ministério da Aeronáutica. O satélite foi criado pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). A coordenação dos programas fica a cargo da AEB (Agência Espacial Brasileira).
A maturidade do VLS ocorre em um momento no qual os países com maior envolvimento na conquista do espaço começam a utilizar cada vez mais satélites de pequeno porte.
E também existe a tendência de satélites científicos estarem ao alcance de cada vez maior número de centros de pesquisa.
Dentro de alguns anos, os brasileiros esperam ser capazes de competir nesse mercado, seja com a atual configuração do VLS, seja com seu sucessor (VLS-2), que poderá levar satélites de até 600 kg.
"Nossas pretensões são pequenas", diz o diretor do centro de Alcântara, coronel-aviador Dailson Mendes de Oliveira; "são foguetes de sondagem, minissatélites, reposição de satélites de constelaçÕes, etc".
O centro que ele dirige deverá lançar seu primeiro satélite com o VLS, mas já é bem-sucedido na área mais modesta de foguetes de sondagem atmosférica. Já foram lançados de Alcântara 260 desses foguetes de até dez toneladas, com "índice de aproveitamento" de 92% -isto é, lançamentos 100% bem-sucedidos, incluindo nessa estatística o perfeito funcionamento da carga útil (o equipamento científico) dos foguetes.
A localização de Alcântara ajuda, por ter o mar a leste e a norte, na direção do qual se fazem os lançamentos, e por estar perto da linha do Equador, que facilita a inserção em órbita.
O teste do primeiro protótipo do lançador, o VLS-1-V01, deverá ser seguido por outro foguete igual em 98, levando outro satélite da mesma série de coleta de dados, o SCD-3. Já o SCD-2 deverá ir ao espaço também em 98 a bordo de um lançador americano Pegasus, como aconteceu com o primeiro da série.
Já existem hoje quatro desses protótipos do VLS em fabricação, segundo o coronel-aviador Antônio Hugo Pereira Chaves, diretor do IAE e gerente do projeto VLS. Cada um deles custa US$ 6,5 milhões. O lançamento do Pegasus custou US$ 14 milhões. Mesmo levando-se em conta o custo do lançamento e do seguro da carga útil -um valor que dependerá da confiabilidade do foguete-, o lançador brasileiro tem boas chances de se tornar competitivo.

O jornalista RICARDO BONALUME NETO viajou a Alcântara a convite do Ministério da Aeronáutica.

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