São Paulo, domingo, 19 de outubro de 1997
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Um mercado ou um país?

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Depois de ler a pilha de depoimentos, entrevistas, "briefings" e papéis variados produzidos por autoridades norte-americanas a respeito do Brasil, motivados pela visita de Bill Clinton, dá até vontade de conhecer o país que eles descrevem.
É uma terra tão formidável que o conde Affonso Celso ficaria ruborizado e passaria a se achar um ufanista modesto demais.
Os elogios vão da democracia ao potencial econômico, passando pela qualificação de "líder extraordinário" que o próprio Clinton sapecou, para descrever seu colega Fernando Henrique Cardoso.
Alguns números sobre o Brasil de fato impressionam à primeira vista. Exemplo: o fato de país ter se transformado no 12º mercado para a produção norte-americana.
Não é pouco, convenhamos. Ainda mais que, globalmente, o Brasil tem participação medíocre no comércio internacional. Não passa de 1% do total mundial, tanto na ponta das exportações como das importações.
É também com o Brasil que os EUA têm atualmente o seu quinto melhor saldo comercial, apesar de, no geral, o déficit norte-americano ser usualmente portentoso.
Quando Clinton disse no Brasil (e repetiu depois em Buenos Aires) que o Mercosul é bom para os Estados Unidos não estava, pois, fazendo um mero afago nos sensíveis corações latinos. Estava dizendo apenas o que é estatisticamente comprovável.
O que, de resto, nem é difícil de explicar: com a abertura da economia, a partir de 1990, e a sobrevalorização do real, desde meados de 94, o Brasil só poderia mesmo tornar-se um mercado apetitoso.
Pena que o famoso relatório do Departamento do Comércio (aquele da "corrupção endêmica") desfaça muitas das ilusões que os neo-ufanistas possam alimentar.
Bem feitas as contas, os elogios destinam-se apenas a um mercado, não a um país.

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