São Paulo, domingo, 19 de outubro de 1997 |
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Barbas de molho
ELIANE CANTANHÊDE Brasília - Mário Covas acertou em cheio quando advertiu Fernando Henrique Cardoso de que aprovar a emenda da reeleição tão antes do tempo não daria certo. Não deu.Primeiro, a compra de votos. Agora, a vigilância cerrada dos adversários, da imprensa e da opinião pública para detectar qualquer rastro eleitoreiro nos passos do presidente e dos governadores. Quem procura acha. Especialmente às vésperas de eleições. O governador Valdir Raupp confessou que vai aplicar em obras eleitoreiras R$ 66 milhões que o BNDES destinou para o saneamento de uma empresa estatal de Rondônia. Essa confissão, vergonhosa, sem dúvida, poderia constar de fitas em vários outros Estados. Era só trocar o nome do governador e adaptar o valor. Os governadores consumiram a maior parte de seus mandatos cortando gastos, enxugando a máquina, demitindo funcionários. Foram os anos dos ajustes e da queda nas pesquisas. Querem reverter rapidamente essa tendência e chegar ao último ano investindo, dando boas notícias e recuperando popularidade. O que só será possível com verbas federais. Se Fernando Henrique Cardoso e Sérgio Motta participaram diretamente da liberação de milhões de reais para Rondônia, certamente não estarão negando os bilhões reivindicados por São Paulo, Rio e Minas, onde os governadores tucanos estão com a corda no pescoço e a popularidade no chinelo. Recursos e pretextos não vão faltar. Há bilhões para privatizações no setor elétrico e nas telecomunicações, para a futura "flexibilização" da Lei Kandir e para projetos na área social. Põe tudo num saco, sacode e sorteia. É assim que o dinheiro da privatização "X" acaba indo para a obra "Y" e se transformando em pontos a mais nas pesquisas. O mais relevante na fita de Raupp é mostrar que a rixa entre "técnicos" e "políticos" (leia-se: entre perseguir o ajuste fiscal ou ganhar a eleição a qualquer custo) era pura retórica. O político FHC abriu o cofre. Os adversários vão tentar fechá-lo. Reeleição sem desincompatibilização dá nisso. Texto Anterior: Um mercado ou um país? Próximo Texto: A noite dos iniciados Índice |
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