São Paulo, segunda-feira, 20 de outubro de 1997 |
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Pra não dar rolo no seu rolo - Parte 1
GUSTAVO IOSCHPE
Mudaram os métodos, mas a essência é a mesma. Antigamente, era o tacape e o puxão de cabelo; hoje, são flores e uma cantada vagabunda, mas desde que o homem é homem nós corremos atrás das mulheres. Aqui, na Gringolândia, nada escapa da relação custo-benefício, e o lirismo costuma ceder lugar à praticidade de uma lógica de mercado. O par se forma por meio de uma comparação de marcas: se a do carro dele for tão boa quanto a do silicone dela, podem chamar os advogados e preparar o pré-nupcial... Sobrou pra nós o bom e velho jogo da sedução. E ninguém melhor do que os brasileiros nessa parada. Não tanto por talento, mas sim, pela prática: só no Brasil é que o costume de ser calhorda é institucionalizado. Atende pelo nome de ficar. Depois de quase uma década de observações e muitos "vai ver se eu tô lá na esquina, panaca", vão aqui alguns conselhos pro sucesso do ficante. 1 - Beleza não se põe na mesa, mas no triângulo cama-mesa-banho uma guaribada no visual ajuda a chegar ao primeiro estágio. Se não der pra ser bonito, seja rico. Se não der pra ser nenhum dos dois, seja engraçado. Ainda não entendi por que, mas fazer uma mulher rir é um grande passo para o sucesso. Talvez seja porque os outros caras só largam umas do tipo "ô mina, num sai assim na rua, não, que cê vai ser multada por excesso de gostosura". Mas o fato é que, se você disser algo genuinamente engraçado, pode pedir a conta. Piada de português não vale, nem contar coisas humilhantes a seu respeito (ela vai é rir da sua cara -gol contra): tem de ser uma história boa. 2 - Se não der pra ser engraçado, não tente ser engraçadinho. É uma tênue linha que separa os dois: se você tentar ser engraçado e não der certo, ela vai embora; se tentar ser engraçadinho, perigas levar uma bolacha nos beiços, que é pra deixar de ser besta. 3 - Não fique amarrando. Quando sentir que vai rolar, mande bala. Se ela virar a cara, não perca a compostura: faça de conta que estava querendo olhar o material da parede, que está com um torcicolo etc. O bafo é o indicador de que a hora chegou: se der pra distinguir, no fuça-a-fuça, entre o bafo de cachaça e o de tártaro, é porque tá na hora de chamar na chincha (ou comprar um Mentex). 4 - Cuidado com a saída. Pode parecer mentira, mas algumas mulheres aceitam ir a sua casa para ver mesmo aqueles livros raros do Sócrates, a décima sinfonia de Beethoven ou os ovinhos da sua gata. Que Sócrates nunca escreveu nada, Beethoven parou na nona e que gato não põe ovo não serve pra confirmar suas terceiras intenções. Não force a barra (veja próximo item). 5 - Dê a impressão de que você é um novato experiente. As mulheres têm uma postura meio paradoxal: na verdade, querem homens "rodados", que saibam como tratá-las e com experiência suficiente para não ficarem afobados, mas querem ouvir de você o quão especiais elas são, que, na verdade, você acaba de sair de um seminário e que, peraí, não vá tirando esse sutiã, não, que, senão, eu vou ter de tapar os olhos porque não foi isso que eu queria dizer quando... PS: Calma, feministas: semana que vem é a vez das mulheres. Contribuições (métodos usados na sedução de homens) são mais do que bem-vindas. Texto Anterior: A descoberta de ser você mesmo Próximo Texto: Raimundos, poeira, fumaça e rock Índice |
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